Ontem eu não estava bem.
Fiquei com uma sensação meio angustiante por muito tempo, sem saber exatamente o porquê e, se você quer saber bem a verdade - embora eu seja médium e muitas vezes estou sentindo a angústia de outra pessoa - não é "gostoso" se sentir assim e eu estou cansada.
Eu sei que todas as pessoas têm seus dias bons e ruins mas, pô... é muita oscilação, e por nada. As palavras do psicólogo martelando na minha mente, um conflito de pensamentos e emoções e eu me vendo como uma pessoa que, afinal, sente o peso e a confusão das decisões tomadas porque nada é tão simples como parece.
"Ah, vou sair do candomblé" - ótimo. Mas as lembranças, a saudade da convivência, os poucos amigos, o ambiente em si - a própria religião, o medo que norteava alguns rituais e que eu GOSTAVA porque no fundo existe uma criança levada aqui, saudade do pai de santo, saudade de me enfiar na natureza, descalça, cachoeiras, entrega total do ser, a sujeira que me incomodava - não gosto de sangue - mas o óbvio fascínio em me saber filha de uma bruxa dentro da religião e o acesso às informações que essa condição me dava, o perigo, o contato com espíritos etc etc etc.
"Ah, vou tocar numa igreja evangélica" - ótimo. Mas a confiança depositada em mim pelo pastor e membros locais, muitos que me conhecem pois figurinha carimbada aqui eu sou, as ditas profecias e promessas divinas de que alguém viria para dar um tchan no louvor inexistente da igreja, a comparação de minha simples pessoa com um personagem bíblico que era levita por uma senhora que nem me conhece e isso há um ano atrás, minha óbvia curiosidade em estudar sobre tal personagem e encontrar, aqui e ali, algumas similaridades - o dito levita também saiu da igreja e se envolveu com o oculto - e a desistência, a culpa por desistir, a cobrança indireta para o Ricardo "pôxa, vcs nos abandonaram, minha mulher estava pensando em ir na sua casa conversar com sua esposa" ("abandonaram"?! Mas eu nem entrei! Não era membro da igreja, não era dizimista, não tinha meu nome lá, nada... era apenas um "reconhecimento de área") etc.
Minha ida desesperada ao Santuário de Nossa Senhora Desatadora dos Nós (não posso escrever "ah, vou na Desatadora dos Nós" porque isso realmente não foi planejado antes) como última tentativa de ajuda no âmbito religioso.... evidente que eu nunca discriminei Maria como a maior parte dos evangélicos fazem - eu nunca pensei como a maior parte dos evangélicos pensam, mas eu guardo as coisas pra mim - as coisas acontecendo, se encaminhando de forma rápida e eu me deixando levar pelos acontecimentos, me tornando parte da comunidade e talvez seja esse um dos poucos pontos da minha vida em que não existam dúvidas, porque eu realmente gosto de estar lá, gosto das missas lá e aqui na matriz de São José e, depois de tantas andanças, eis-me de volta ao catolicismo e com razoável fervor. Mas sinto que eu não sou a mesma.
Aí vou ao supermercado e preciso sair da fila do caixa porque as lágrimas surgem.
Volto a perambular pelos corredores repetindo mentalmente "calma, Ana" quando ouço me chamarem - uma menina de uma igreja tal querendo fazer aula de teclado. A conversa com ela me distrai e, depois, vou direto ao setor de bebidas pensando "vou tomar alguma coisa que seja o suficiente para ficar bêbada", compro, chego em casa e é evidente que a voz vem: "não beba...".
Não bebi.
Penso em ligar para o psicólogo ou mandar um whats dizendo que "está difícil a coisa e não sei o que está acontecendo". Desisto também. À noite, uma conversa que vira uma discussão, eu me abrindo e falando na real o mundo de coisas que, acredito, me moldam hoje e percebendo quais os problemas que de fato existem. Muita mágoa e uma impressionante dureza de coração que insiste em não se dissipar em perdão genuíno. Mas não perco a esperança. Me agarro como um náufrago se agarraria numa bóia em meio a um imenso oceano.
Na última sessão com o psicólogo falei como minha área de interesses é ampla e de como gostaria de ser uma daquelas pessoas que se interessam só por uma coisa, fazendo com que ele imediatamente abrisse um imenso sorriso que me dizia "você? Impossível". Ele diz que tento me enquadrar desesperadamente em algum lugar e não consigo e, pior, não vou conseguir nunca, porque de fato não pertenço a nenhum desses lugares. Diz que não sei lidar com o que ele chama de "espírito livre" e "inteligência acima da média" porque olho para as outras pessoas buscando um parâmetro que obviamente não vou encontrar - porque sou diferente delas, assim como elas também são diferentes de mim e cada um tem seu universo particular. Seu "infinito particular" rs.
Falei e continuarei falando dessa inquietação e insatisfação constantes que me fazem ter um imenso sentimento de culpa porque não acho que eu deva ser insatisfeita com o que quer que seja - meu marido me ama; eu tenho uma casa linda; eu faço o que eu gosto; eu tenho saúde; as pessoas gostam de mim; eu tenho amigos; eu tenho talento; eu tenho sorte; eu tenho uma vida boa; etc etc etc etc etc etc etc etc etc etc etc etc então por quê, meu Deus, por quê não estou inteiramente feliz? Por que parte de mim quer alguma coisa outra que nem eu sei direito o que é? E por que eu sei que, uma vez que eu consiga seja lá o que for que eu queira, imediatamente vou querer outra coisa e nem vou dar atenção direito ao que eu já consegui e que me era tão importante?!
Sinceramente..... às vezes eu penso em fazer um daqueles saltos duplos de pára-quedas em Boituva e, aí, o para-quedas poderia não abrir, nem o reserva.... já fui pesquisar o preço. Trezentos e qualquer coisa. Não é caro.
Atribuo isso à depressão. Nada que remédios não resolvam. Evidente que não vou para Boituva. E a culpa volta de novo....
Essa semana em particular é a semana que antecede um novo ciclo na minha vida e entendo toda essa angústia como também sendo parte da expectativa desse novo ciclo e de tudo que se inicia com ele. Mas vamos tentar ir um dia por vez. Deixar o tempo fazer seu trabalho. Deixar Deus fazer seu trabalho.
Deixar Deus fazer seu trabalho porque, de verdade, eu mesma já não sei o que fazer.
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