Só quero deixar registrado no blog a missa que assisti na terça, na igreja de Nossa Senhora Desatadora dos Nós, em Campinas.
Foi muito significativa para mim.
A igreja é linda, tudo é lindo, mas não é só isso. Existem outras coisas que não vou escrever em detalhes aqui, não agora. O que importa e quero deixar escrito são, além da homilia normal da missa, as palavras certeiras de um padre gringo (francês), simpático, antes da missa.
Vieram de encontro com muita coisa na minha vida. Ele balançava um pêndulo no altar, enquanto falava sobre o passado e sobre o futuro.
Resumindo, dizia para os fiéis viverem no presente. Disse que o passado é um monte de cinzas e que, a cada vez que falamos dele, assopramos sobre elas, fazendo com que algum braseiro se acenda.
O futuro não existe, basicamente.
E enquanto estivermos com a cabeça e o coração ligados nesses dois mundo que não existem, oscilando entre eles, perdemos os momentos preciosos do presente que é, afinal, tudo o que temos.
A ideia não é nova, não é nada fora do que a gente normalmente pensa, viver o presente. Sim. Mas não sei por quê, ali, naquele momento, foi tão impactante para mim. Tão impactante. Talvez porque eu não estivesse esperando ouvir exatamente isso.
Outra coisa que muito me marcou: sentei numa lateral, perto da imagem de Nossa Senhora. E, na hora da comunhão, eles dividem a igreja em três filas. A minha localização me mandou para a fila das pessoas que comungam ajoelhadas, diante da bela imagem. Claro que chorei, e lá estava o mesmo padre - o padre do pêndulo, que não era o celebrante da missa - nos dando a eucaristia.
Ao final da missa, ele me deu um cartão com uma oração, mas não sem antes me dizer "só entrego se você sorrir".
Devia estar séria. De novo, as palavras foram fundo no meu coração.
"Só entrego se você sorrir". A frase ficou na minha cabeça. Virou lei.
Hoje, do nada, o pastor da igreja evangélica onde eu tocava resolveu me mandar uma mensagem. Acho que faz uns dois meses que não vou mais lá e sabia - porque aqui em Elias a gente fica sabendo sobre outras pessoas mesmo sem perguntar - que ele estava nos EUA. Não entrei em contato. E hoje ele me manda uma mensagem dizendo que está no EUA e que gostou do meu cabelo "azul" (a foto da "Katy Perry com Frio" do meu whatssap).
Aproveitei e disse a ele que não iria mais na igreja protestante. Que tinha ido na católica (não especifiquei), que tinha passado por alguns problemas e tinha encontrado alívio na eucaristia e na missa.
Esses dias mesmo estava escrevendo aqui no blog sobre como não tinha ido mais na igreja evangélica, sem dar maiores explicações, não é?
Pois agora dei. Agradeci a oportunidade, é claro. Deixei claro que era uma escolha minha, admiti que poucos pastores fariam o que ele tinha feito (me colocar pra ministrar louvor sem nem me conhecer direito, sabendo que tinha acabado de sair do candomblé - muitos esteriótipos e preconceitos envolvidos aí). Ele aceitou de boa, disse que fez "o que podia fazer" por mim e que eu me sentisse livre para congregar onde quer que fosse.
E que a amizade continua etc etc etc. Uhum. rs
Sou muito observadora em relação a religião. Não iria amarrar o meu barquinho em qualquer igreja e não que a igreja dele seja qualquer igreja, não é isso... problema é essa observação silenciosa e a minha intuição. Fora o fato de eu ser um pouco desconfiada. Enfim. E eu tentei, hein.
Eu nunca vou num lugar com desconfiança total. Senão, nem iria. Para mim, o sagrado depende muito mais da pessoa que procura do que propriamente do lugar. Claro que existem lugares que obviamente são intragáveis mas, mesmo assim, para mim, Deus não está olhando para o lugar quando um ser humano resolve buscá-Lo com sinceridade. O lugar e o que porventura estiver errado nele é outro assunto. Se houver oração legítima, Deus ouvirá.
Fiz um ano de seminário na Nazareno em Indaiatuba e me lembro perfeitamente de uma discussão em classe sobre a 'validade' de uma oração feita por uma prostituta num motel, por exemplo. Com muita sabedoria e calma, o professor virou para nós e disse "Deus está em cada tijolo que constitui o motel. Está nas paredes. Deus está em todos os lugares, onde houver um coração sincero".
Emudeceu a classe, evidentemente. Era muito interessante, o seminário. Eu gosto de estudar.
Tenho um compromisso e sei que devo cumpri-lo. Isso é tão certo para mim quanto a música. É desde pequena. Envolvia desde leituras sérias (na medida da compreensão de texto de uma criança....) até brincadeiras....rs, brincava de missa. Eu era o 'padre'. Forçava minha melhor amiga a vir de joelhos, com um véu sobre a cabeça, do meu quarto até a sala, onde eu estava com um cálice dourado da minha mãe nas mãos.
A "hóstia" era Mentex. hehe
Mas houve momentos mais sérios e marcantes, também. Eu era assim: estudava de manhã, chegava, almoçava e me sentava numa cadeira de balanço que tinha sido da minha avó e que ficava no meu quarto. Lia durante horas e depois ía estudar piano. Era isso, basicamente, todo dia.
Numa dessas leituras - não vou me lembrar, podia ser a bíblia, podia ser um dicionário, eu lia absolutamente tudo - chorei, pensando que não poderia ser "padre" e que freiras não falavam nas missas. Chorava porque me imaginava não no altar, mas entre o povo, no corredor, falando sobre como Deus amava aquelas pessoas. E me perguntava porque o padre não fazia isso.
Eu tinha o quê? Oito, nove anos? Dez, no máximo. Com onze eu estudava à tarde e os interesses começaram a ser outros. rs
Quando estava na Nazareno em Indaiatuba realizei esse desejo de infância, saindo do púlpito e me dirigindo às pessoas nos corredores, microfone na mão, enquanto cantava e falava o quanto Deus amava aquelas pessoas. Olhos nos olhos. Do jeito que eu queria.
(Quando você está na frente de pessoas falando coisas, elas começam a te ver de outra forma. E eu sou como todo mundo. Isso me incomodava demais. Assunto para outro post)
Poderia contar outras coisas. Mas vamos parar por aqui. O que eu quero deixar escrito é que ontem foi maravilhoso para mim.
Boa noite!




