terça-feira, 30 de agosto de 2016

Alguém no corredor



Hoje de manhã tive uma daquelas experiências com "pessoas mortas".

Estou lá me arrumando para ir trabalhar, no quarto quando, de repente, vejo uma pessoa vir do corredor e entrar rapidamente no banheiro.

Não vulto, escuro ou claro. Uma PESSOA.

Imediatamente penso "nossa, o Ricardo voltou?". É evidente que não e eu sei que não, mas todas as possibilidades prováveis passam pela cabeça para justificar uma visão e eu sou muito especialista em elaborar possibilidades.

Com o coração disparado, me dirijo com cuidado ao banheiro, esperando realmente ver a 'pessoa' que tinha passado. Não tinha ninguém. "Ok", penso. Encosto na parede do corredor, enquanto arrepios percorrem o meu corpo, e espero alguma comunicação. Nada. Acendo a luz do corredor e ando pela casa com calma, mas nada mais aparece. 

Me arrumo, tomo café e desço...

Era uma pessoa branca, cabelos escuros cortados curtos. Provavelmente um homem. Eu o vi de costas, vindo do corredor e entrando com muita rapidez no banheiro, quase correndo. Fazia muito tempo que não via alguém em casa. 

Vejo espíritos fora de casa, principalmente nas estradas, de dia ou à noite. Em casa, geralmente vejo vultos, mas também não são muito comuns ultimamente. Por isso, hoje levei um susto; foi muito real e à luz do dia.

Bom, a casa em si já foi bem assombradinha. Convivo com coisas estranhas desde pequena, o que de certa forma influenciou  no meu interesse pelo oculto. Hoje o interesse continua mas, depois de ter me envolvido com um lado 'muito oculto', digamos assim, algumas coisas ficaram definitivamente compreendidas. Isso é muito importante pra mim. O conhecimento obtido na prática, através da própria experiência e não através de livros - na maioria das vezes fantasiosos - serve para desmistificar muita coisa, te dar a exata noção do que é o mundo oculto e até onde esse mundo pode realmente interferir no nosso mundo material. Porque, apesar de ter influência, sim, não tem toda a  influência que propagam por aí. Se manuseado com competência, o oculto vai até um certo ponto com sucesso. Mas pára, quando poderes maiores entram em ação.

Então, "medo" realmente não é a palavra em relação a isso. "Respeito", sim.

Essas semanas tenho recebido alguns pedidos de leitura de cartas - eu nunca faço propaganda, as pessoas simplesmente ficam sabendo. Disse "não" a todos. De forma educada, esclareci que estou em outra religião, uma religião que conflita com esse tipo de prática e, embora eu particularmente não ache nada tão grave assim, tenho que ser coerente com o lugar onde estou. Recebi compreensão. Em troca, como realmente quero ajudar, passei para todos a oração de Nossa Senhora dos Nós. 

Rs, é evidente que eu não ía perder a oportunidade...

Tenho me envolvido com a música católica atual e realmente tem coisas bacanas, como também tem as coisas "não bacanas". Mas, mais do que música, tenho lido bastante, meditado, compreendido coisas sobre o catolicismo que antes não compreendia ou não tinha interesse em saber. E tenho gostado. São boas leituras. Estou muito crua, apenas um mês de santuário mas, antes de ser candomblecista e antes de ser evangélica, eu era católica, rs. 

As músicas do padre Zezinho sei todas...









domingo, 28 de agosto de 2016

Bom dia. rs

Estou morrendo de sono, mas resolvi levantar da cama e... vir pro computador. rs

Ainda estou meio dormindo.

Ontem toquei e cheguei não muito tarde, mas aí quis comer... fui pra cama assistir tv e acho que dormi sentada. Sempre tive problemas ao deitar logo depois de comer. Fora que teve uma queda de energia que não sei exatamente quanto tempo durou, mas acordei com tudo sendo ligado novamente e fiquei preocupada com o aquário, prestando atenção no barulho dele na sala, até voltar ao normal (o aquário parece uma fonte, normalmente. Eu escuto a movimentação da água).

Estou tendo dores na coluna constantemente e ainda não entendi o 'mecanismo' da coisa, pois tem dias em que vou tocar e já sinto dores durante a apresentação. Noutros dias, não sinto nada. Ontem não senti nada, mas hoje ela já está incomodando um pouco. Sei que tenho que fazer exercícios físicos, estou muito parada. Mas eu odeio academia. Então, nesses dias atrás, comecei a fazer algumas coisas simples de dança do ventre. Eu dancei por três anos. Estou pensando em voltar para movimentar um pouco.

Sinto a diferença do piano acústico agora, pois o peso das teclas é diferente e eu toco por 2, 3 horas seguidas antes de pensar num intervalo. E estou desconfortável pois o piano está sempre um pouco mais alto que a minha mão - e ele tem que ficar um pouquinho abaixo. Vou ter que levar uma almofada ou pensar num banquinho com a altura certa para finalmente ficar tudo certo.

Hoje eu tô quebrada, dormi bastante mas parece que não foi o suficiente...

Na igreja está tudo se normalizando, as missas estão bonitas, minha voz tem saído de forma bacana e finalmente rola um clima de amizade entre o grupo. Denis sempre dá um jeito de falar oi para mim, já que eu não sou mais a moça educada que cumprimenta o fundador primeiro. No ato penitencial eles saem com baldes de água benta para jogar na igreja inteira e nesta última terça ele veio 'com fogo nos zóio' pra jogar diretamente em cima de mim. Saiu do altar e eu pensando "nossa, ele vai me inundar de água benta". Estava cantando e ele jogou diretamente na minha boca! O piano, então, tá mais 'bento' que o Chico Bento....

O santuário é místico e isso eu percebi desde o começo. Lendo os livros dele - é, eu li alguns - essa impressão se confirmou. É um cristianismo antigo, europeu, diferente em algumas coisas e, sim, místico, muito místico. Já pensei algumas vezes que Denis pode estar vendo ou sentindo o orixá africano que me acompanha.

Lógico que a moça aqui tem tido suas aventuras nessa área, mas sei que não vai muito pra frente tudo isso. Não existe vontade nenhuma de voltar para o candomblé. Não existe vontade nenhuma de fazer qualquer outra coisa em termos religiosos do que tocar nas missas de terça, fazer o que já estou fazendo. Está me trazendo alegria e paz. Maaaaassssss.... ainda existe amor por Oxum e talvez isso fique para sempre. 

A fé das pessoas no santuário me impressiona, o quanto elas buscam, o quanto chegam como eu cheguei, em desespero, pelos mais diversos motivos. O santuário parece, para mim, última parada de quem já tentou tudo. As pessoas jogam todas as suas fichas em Nossa Senhora. Acho lindo.

Bom, de resto... um pouco cansada, com dores na coluna e com sono, especialmente hoje, mas hoje é domingo, também. rs

Bom domingo.






quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Nossa Senhora tem covinhas.





E ontem teve a missa no santuário.

Eu, contrariada, porque foi decidido tocar as músicas que tocamos no domingo (e a homilia? Enfim). Músicas bonitas, mas... tem tanta música bonita para ser tocada ainda.

Cheguei no santuário, arrumei o piano, me ajoelhei diante da imagem de Nossa Senhora Desatadora dos Nós e fui sincera: "eu não queria estar aqui". Desatei a falar todas as minhas dificuldades não só com a igreja. Minhas dificuldades internas também, minhas dúvidas, minhas inquietações. A imagem, enorme, olha diretamente para baixo, para onde as pessoas se ajoelham. Ela não é sorridente, mas ela esboça um sorriso. Não aquele tipo de sorriso insosso. Ela não é impessoal. Qualquer imagem da Desatadora sempre vai estar olhando pra vc, caso vc se ajoelhe diante dela, com um semblante amigável.

O fato é que, várias vezes, tive a impressão de um sorriso um pouco maior em sua face. E foi o que vi ontem. Vi uma imagem se segurando para não rir abertamente, e vi covinhas! Vi covinhas no rosto de Nossa Senhora! Claro que não existe covinha nenhuma, mas elas vinham do esforço em segurar uma risada!

Sou meio louca e o subconsciente é poderoso, mas enfim. Fui para a lanchonete e, droga, o digníssimo senhor está lá. Sento a contragosto num lugar que fica bem onde ele iria passar para sair. E ele passa e se detém "tudo bem com você?" e eu "tudo bem, graças a Deus". 

Não tem um dia que o digníssimo senhor não me dirija a palavra, seja para dizer "quero ouvir a sua voz", seja para "tá tudo certo aí", enfim, alguma coisa ele vem e fala. Quando faz isso perto da banda, tooooodo mundo quer saber o que ele falou (porque ele não fala alto. Ele te chama e fala pra vc). 

Sinto o povo pisando em ovos em relação ao Denis. Acho que muitos músicos já sofreram nas mãos dele, que faz coisas do tipo pedir para a banda parar de tocar porque "está muito ruim" (no meio da missa! No microfone!!). Acho que hoje consigo colocá-lo em seu devido lugar, falando com sensatez.

Claro que o francês é a estrela do lugar. O Santuário tem a marca inconfundível desse senhor. Excêntrico, europeu, falante, percebo que muitas coisas ele faz de propósito, como gritar um "amém?" que faz o povo dar pulo no banco de susto, para depois se virar morrendo de rir para o padre e os ministros que estão atrás. Os fiéis não vêem mas eu vejo, já que estou quase ao lado do altar, embora longe. 

E ele chama pra si essa responsabilidade, também. O padre dá a benção final e vai embora, enquanto ele pede para as mulheres grávidas virem à frente (ontem foi a missa das gestantes e mulheres que querem engravidar), conversa com elas, asperge água benta, aconselha. Muitos fazem fila para falar com ele no particular. Outros vão e apresentam suas crianças, dão testemunho no microfone.

A igreja está sempre, sempre, lotada. É impressionante.

Bom, voltando à minha parte, que é a música, o fato é que ontem foi a mais bela missa que já fizemos no santuário até agora. Tranquila, centrada, o piano ressoando, eu querendo passar cada parte do meu ser em todas as teclas, cantando como se rezasse, implorando com as palavras. E segura, muito segura. Já na homilia o vocalista vem para mim e fala "essa missa está liiiinda, olha a calma, a suavidade das canções". 

Para calar a minha boca, os meus pensamentos, o meu mal humor, a minha indisposição. A missa foi perfeita e todas as músicas saíram firmes, como se tivéssemos ensaiado.

Na hora de rezar o Pai Nosso quase chorei. É muita gente numa mesma vibe. A presença de Deus era sufocante. Olhava para o teto e quase dava para ver a atmosfera espiritual pulsando, uma força latente... como explicar? 

Me sentei diante do piano e as indagações vieram. Por que estou aqui? Por que eu? Eu não sou digna de estar aqui. Etc etc etc...

Cada uma das mil e não sei quantas pessoas que estavam ontem lá foram com muita sinceridade em busca de algo, ou para agradecer, enfim. E eu lá, com o meu piano, com a minha voz, tendo que adorar e consequentemente levar essas pessoas à adoração também. Olhava para a igreja e a responsabilidade espiritual de assumir esse lugar começou a ficar clara, como se alguém me explicasse pacientemente tudo o que escrevi acima. É um lugar de honra, me disseram. E eu novamente disse "entendo, mas é que não sou digna mesmo. Mas estou disposta".

Fora os olhares. As pessoas olham, né? Ficam te olhando, te observando. Eu vejo a história se repetir, como era na igreja evangélica. 

Saí de lá com uma incrível sensação de paz. Não quis quebrar isso na volta, não liguei o radio no carro. Viemos, os dois, em silêncio, conversando o mínimo. 

As dificuldades continuam as mesmas, a birra com o digníssimo senhor se dissipou um pouco, não sei o que o futuro me reserva, se vamos continuar lá ou não mas, como eu escrevi ontem... o lugar é santo.


segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Lógico que a vibe musical não tá lá essas coisas, por outro lado.

O santuário tem suas regras, o que eu acho 'salutar'. Todo lugar precisa de regras e eu venho de uma religião que possui uma infinidade delas, o candomblé. Também não tenho nenhum problema com hierarquia - de novo, graças ao candomblé. 

Mas uma coisa é ter regras. Outra, é botar o terror. E outra, muito diferente, é ter regras, botar o terror e não seguir quase nenhuma regra e mentir no terror!!

Hoje é segunda à noite e meu aborrecimento vem do fato de ter missa amanhã e de não ter recebido as músicas. Pra variar. E eu pedi. Pessoalmente.

Assim.... não querendo falar mal, mas  o negócio é que deve ser muito mais fácil tocar no VATICANO do que no santuário!!

Claro que o lugar é abençoado. Evidente que não há como negar a presença de Deus, o lugar é santo mesmo, é consagradíssimo, e mesmo eu, com toda a minha frieza depois do balde gelado que me foi jogado, não fico imune à atmosfera espiritual do lugar. Lembre-se, leitor.... existe uma médium que continua sendo médium aqui. 

Ainda que vc se impressione com a beleza, com os quadros, com o dourado (que eu tanto amo), com a penumbra, com as flores, com o tamanho, com o canto gregoriano ressoando no silêncio respeitoso que se mantém no santuário, eu sinto isso e um pouco mais. É aí que entra a atmosfera espiritual que eu citei. Inegável. É inegável, o lugar tem... o lugar é santo.

Basicamente é isso. O lugar é santo. O lugar foi feito santo pela constante consagração, orações... tá, toda igreja tem oração e consagração. Mas preste atenção, leitor. Não é em toda igreja que vc pode sentir que entrou num lugar diferente. Às vezes, o ambiente não muda. Se muda, é algo ínfimo e se trata muito mais do respeito que vc tem por estar numa igreja do que o ambiente em si.

Quando eu entro num cemitério - e entrei no domingo, dia dos pais - imediatamente percebo a diferença. Minhas pernas começam a ficar pesadas, como se eu andasse com aqueles pesos de academia amarrados em cada uma. Isso começou logo depois da feitura. No domingo, fiquei um bom tempo lá, mais do que uma filha de santo seria aconselhada a ficar. Andei pelo lugar, sentindo o peso, mas não me alarmei. Fiz o que tinha que fazer e saí. Cheguei em casa e tomei as devidas providências que uma filha de santo toma depois de entrar num cemitério, rs. Aliás, só para constar... a atmosfera, em si, das ruas, de tudo, é pesada. É incrivelmente pesada, mas a gente se acostuma. O ar é pesado. É muito interessante como se consegue sentir essa diferença. 

Claro que não existe só no cemitério, esse peso. Em muitos comércios também. Em muitos lugares. Hospitais... etc.

Mas voltando ao assunto. Apesar de toda a consagração do santuário, os músicos estão no esquema "vai que dá", o improviso que eu tanto evito. Como somos novos no lugar, eu e Ricardo, esperávamos um pouco mais de consideração. Eu esperava, pelo menos. Eu não sou obrigada a saber todas as músicas católicas de todos os tempos de cor. E eu não fico ouvindo música o dia inteiro, pra começo de conversa. Nem ficarei. Eu simplesmente queria saber com alguns dias de antecedência para poder trabalhar em cada música e ficar 'bonitinho'. Só isso!

Fora isso, existe também aquela coisa de status por tocar ou trabalhar num local tão grande e famoso. Isso eu percebo em quase todas as ocasiões, vindo de diferentes pessoas. A maioria se acha muito importante por estar ali - e aí que entra o "vamos botar o terror nos novos" (no caso, nós).

Eu, com 40 anos nas costas, apenas observo com um amargo desapontamento. 

Hoje nada me impressiona no santuário. Nem as pessoas, nem o fundador, nem a beleza da igreja, nem as pregações. Não se trata de ingratidão, pelo menos eu acho que não. Mas, depois de alguns contratempos e de perceber certas 'contradições' grotescas (não vamos rotular como 'mentira', vai), a coisa toda perdeu muito do encanto inicial... e olha que eu estava bem empenhada, hein. Bem empenhada...

Tento não confundir as coisas. Uma coisa é a crença que não tem absolutamente nada a ver com tudo isso. Outra é tudo isso. Mas devo confessar que não é fácil. 

Não sei até quando vou conseguir levar desse jeito, com as músicas sendo escolhidas meia hora antes na lanchonete. Acho, inclusive, desrespeitoso, em se tratando do que é. É, leitor.... o desânimo bate.

Uma coisa interessante que aconteceu foi tocarmos uma música do nosso cd na missa de domingo. Missa que não fazemos parte, mas não se encontrava tecladista no dia dos pais, e a vocalista caiu da escada. Não vou comentar muita coisa a respeito porque não quero colocar mais lenha na fogueira mas, cá entre nós, entre CENTO E SESSENTA MÚSICOS não se encontrar um tecladista e uma vocalista para a substituição.... ?!?!?!?!

Confirma esses 160, produção? Ou tá no pacote "botar o terror nos novos"?!

Pois é. 










Danse Macabre






Um pouquinho de calma para escrever no blog.

Gostaria que os textos fossem mais frequentes como já foram - diários - mas muitas coisas se infiltraram no meu dia-a-dia e me afastaram um pouco da internet, de modo geral. Dizem que é bom; eu digo que tanto faz como você usa o seu tempo livre, desde que te proporcione prazer. Enfim.

E uma coisa que me proporciona prazer é tocar piano. Definitivamente!

Ontem estive num ensaio muito bacana, tocando uma peça a dois pianos que já tinha feito no Conservatório. Lógico que isso é uma mão na roda pra mim, mas claro que eu tenho que treinar também. Procrastino, como sempre, porque sei que ela sai. Talvez com um mês de ensaio diário ela esteja pronta. Como só vou apresentar no final do ano, não tenho me preocupado. Às vezes, de bobeira, pego algumas partes mais complicadas, em casa.

Enfim, ontem finalmente juntei com o piano 1 e fomos até determinado ponto; não fomos muito, porque é uma peça longa. Ela não é difícil - "Danse Macabre", de Camille Saint-Saens - mas tem trechos trabalhosos. Repete-se muito, o tema é fácil para decorar, é divertida, enérgica. Claro que ainda não chegamos aí "nisso tudo". Estamos tentando encaixar os dois pianos, musicalmente, o que também não foi trabalhoso, ontem. Para primeiro ensaio, a coisa fluiu muito bem. E a forma como foi dividida entre pianos eu, particularmente, acho divertida.  A dança da morte.... o leitor percebe que a estudante de piano aqui era eclética no que diz respeito a repertório.

Danse Macabre é um tema interessante. Existem várias teorias  a respeito do surgimento da ideia; uns dizem que o pontapé inicial foi a partir de um afresco pintado em 1424 num  cemitério em Paris; outros, que veio de um poema alemão de data anterior, do séc. XII e um grupo de estudiosos considera a Espanha como lugar de origem... junte-se a isso a época da peste negra e pronto, está criada a noção de que a vida é frágil e que a morte espreita a todos.

Esse "a todos" é primordial dentro do 'espírito' da Danse Macabre, que nada mais é do que a personificação da morte, conduzindo uma fila de indivíduos de todas as camadas sociais, representados por esqueletos, dançando em direção aos próprios túmulos. 

A peça em si retrata isso de forma magistral. Mas existem outros pontos que podem fazer um link com o seu emocional, também. Aliás, quem já fez aula de piano comigo sabe: depois da música tirada e tudo certo, dá-lhe um pouco de história sobre a composição e o autor, além de uma conversa sobre o que a música está provocando no aluno; quais os sentimentos que ela evoca; o que ele pensa quando toca tal trecho, quando canta tal frase, quando faz tal fortíssimo ou pianíssimo; enfim, o que ele vai acrescentar emocionalmente, o que vai jogar para cima das teclas, traduzindo em som. 

Na Danse Macabre, temos o cortejo alegre e despreocupado que na verdade retrata todos nós, seres humanos, dançando de forma descuidada em direção ao destino fatal. Mas podemos acrescentar os elementos de perda de cada pessoa, e aí a coisa muda um pouco de figura.

Perto do final, existe uma sequência de acordes no piano 1 que segue um determinado ritmo (é uma valsa) que cria uma expectativa decrescente no ouvinte. A sequência, que começa obedecendo ao compasso, entra num ritardando e os acordes começam a ficar escassos e entrecortados; não obedecem mais ao ritmo; ficam piano, pianíssimo talvez, até que param e surge uma parte muuuuuito triste e melódica no piano 2. Essa sequência de compassos, para mim, representam uma respiração entrecortada e agoniante ou as batidas descompassadas de um coração prestes a parar. E, inevitavelmente, a respiração entrecortada do meu pai, no hospital, me vem à memória, enquanto eu o observava da porta do quarto, sussurando "respira. Respira". Eu sabia que ele não ia respirar. Foram seus últimos suspiros.

Foi estranho vê-lo morrer. E ao mesmo tempo foi um alívio tão grande. Ele estava sofrendo e eu, rezando há alguns dias "Deus, se o Senhor não pode deixá-lo, por favor, leve-o".

Então essa parte específica da música, para mim, são os acordes finais da vida do meu pai, nitidamente.

(Leitor, sem muito sofrimento, ok. Isso é uma constatação. Eu estou bem e feliz. Eu estou animada. Eu estou consciente e racionalmente equilibrada. Pé no chão).

Enfim, de tudo isso, posso tirar o seguinte: como eu adoro o piano, Jesus! Como eu amo esse instrumento... como eu ficaria a noite e a madrugada inteira repetindo a primeira parte da música apenas pelo prazer de fazer, de ouvir, de tocar, tudo. Nessas horas eu penso que continuo mais pianista do que nunca, não importa o quanto eu cante; eu amo cantar. Mas tocar é minha vida mesmo, é o que de fato eu mais gosto de fazer. E o ERUDITO. O erudito. O erudito é o prazer, é o desafio, é a sensibilidade, é a voz da minha alma. O erudito é só meu. 

Boa segunda.




sexta-feira, 5 de agosto de 2016








Tento manter o hábito de escrever no blog, mas às vezes fica difícil saber o que escrever.

Sou muito sincera. Mas óbvio que "o coração de uma mulher é um oceano cheio de segredos", como dizia a Rose do filme Titanic, rsrs. Evidente que não escrevo tudo aqui. 

Tem coisas que não gosto de admitir nem para mim mesma. 

Uma dessas coisas é minha incapacidade de perdoar. Foda. mil vezes foda.

As coincidências da vida. Isso me ocorreu sábado passado, durante as visitas obrigatórias ao Santíssimo. É muito bom estar lá, mas se não fossem obrigatórias duvido muito que estaria lá toda semana.... iria, acho que umas duas vezes por mês, talvez. Não sei. O fato é que estava lá lendo um livro e de repente um pensamento nada a ver com o texto que estava lendo veio em mente: "você precisa perdoar seu pai. Perdoar de coração. Faça isso não só por você, mas também por ele, pois ele precisa do seu perdão".

Parei e fiquei pensando. Eu já "perdoei" meu pai. Rsrsrsrsrs.... só que não, né. Não. Claro que não perdoei. Eu entendo tooooooodos os processos, as carências dele, os problemas dele, tudo. Eu só não perdôo tudo o que ele me fez passar. Simples assim.

Fiquei chocada ao perceber essa realidade. Eu não penso nos meus pais. Sempre evitei ao máximo pensar na minha mãe, não por não querer ou por mágoa porque não tenho absolutamente NADA a reclamar dela. Ela foi perfeita. E justamente por ter sido perfeita e não estar mais aqui é que evito pensar nela, porque senão eu morro. Provavelmente. 

Então, se não penso nela, muito menos NELE.

Aí desço as escadas do Santíssimo e me deparo com um senhor que me coloca numa situação muitíssimo parecida ao que eu vivi com o meu pai e que me faz reviver todos os piores sentimentos que já tive.

Era pra se aprender alguma coisa, presumo. Mas até agora o que prevalece é só uma raiva profunda, silenciosa e perigosa. 

E uma decepção monumental...

Então, agora tenho que perdoar meu pai e esse digníssimo senhor, também. Só pergunta para mim se eu QUERO perdoar.

É claro que não. Eu nem vou escrever o que eu realmente desejo.

E aí, caro leitor, é com essa e outras coisinhas chatas, mas até então naturais do ser humano - a gente TENTA entender, né, mesmo quando tais coisinhas acontecem dentro de uma igreja - que fico tentando lidar...

Não sei. Às vezes tenho a impressão que pessoas religiosas são os piores tipos de pessoas. Vejo gente muito mais aberta, legal, leve e positiva do que os que se dedicam a realizar algum tipo de atividade religiosa. Parece que o ser humano não sabe lidar muito bem com os dogmas, as regras e tudo que envolve uma religião. Ele não entende que não é diferente de absolutamente NINGUÉM por estar fazendo o que quer que seja, dentro de uma igreja, por melhor que ache que esteja fazendo, por mais que esteja se esforçando. Às vezes, isso gera na pessoa um alto nível de julgamento - que todos nós temos, em maior ou menor grau - que desemboca num preconceito e, consequentemente, num afastamento de tudo aquilo que ela considera errado e pecaminoso.

Porque ela começa a se julgar muito separada do resto do mundo. Manja?

Enquanto isso, você pega um dos quatro evangelhos e lê lá que Jesus se sentava e comia com mulheres e cobradores de impostos (os piores da época), curava no sábado, perdoava a adúltera e quando ressuscitou escolheu Maria Madalena para dar o primeiro "oi".

Séculos se passam e tem gente que não aprendeu ainda.



quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Me dá um abraço.




Aí ontem eu toquei na missa, né?

Santuário lotado como sempre, eu mal humorada porque, evidente, musicalmente eu sou um porre de pessoa e simplesmente fui tocar sem saber O QUE TOCAR, pois nada foi passado. Numa missa para duas mil pessoas, que é a média do lugar durante a semana, pô.... transmitida pela web, pô! Estou lá, num consenso geral de que vamos fazer o repertório de semana retrasada, tals.... não me agrada essa coisa de fazer qualquer coisa, acordinho de dó, sol e fá. Isso eu ensino para os meus alunos. Numa missa desse porte, não posso me ater apenas a isso! 

E nem vamos mencionar o contexto espiritual da coisa.

Enfim, estou lá com os músicos quando uma moça vem conversar comigo. Diz que é a missa de sétimo dia de um amigo e que ele gostava muito do Elvis. Pergunta se é possível tocar alguma coisa do Elvis... digo que, infelizmente, lá não seria possível. A moça entende e ok.

Fazemos a missa, não queria comungar pois não me sentia digna de tomar a eucaristia com raiva mas acabei comungando, ficamos lá depois já para discutir o repertório da próxima (o que achei ótimo), e fomos os últimos a sair. Não tinha mais ninguém na rua lateral da igreja, onde estava estacionado o carro. E eis que, devagar, sobe pela rua um casal de idosos. 

Eles vêm em minha direção e começam "como você canta bem, que maravilha, linda missa, é seu esposo? Nossa canta muito bem também" etc etc etc e no meio da conversa a senhora vira para mim e fala "essa foi a missa do sétimo dia de morte do nosso filho".

Imediatamente pergunto "o que gostava do Elvis?" e ela "sim", e me mostra uma foto dele. Trinta e seis anos, motoqueiro. 

Sem saber exatamente o que fazer, abraço a senhora e você, leitor, não tem ideia da simbologia desse abraço. Eu ainda estou processando. 

Porque me foi negado um abraço. Dentro do pátio do santuário. Coisa que achei inadmissível, horrível, chocante, terrível - vindo de quem veio, um senhor que se diz cristão mas que não abraça MULHERES! E justo comigo, eu, eu, eu, a Lucy feminista, a Lucy filha da Oxum, a Lucy que era a única capaz de colocar as mãos nas ofertas às perigosas Iyamis, mães ancestrais,  representantes de todo o poder feminino de acordo com o candomblé e que odeiam os homens, eu, que compactuei com elas tantas e tantas vezes, que as adorava (ainda respeito, muuuuito) enquanto todos tinham medo e de repente esse senhor de grande representatividade no catolicismo me nega um abraço na frente de outras pessoas porque EU SOU MULHER! Isso, dentro de uma igreja consagrada à uma mulher - MARIA!

O fato gerou mil teorias na minha cabeça. Será que ele achou que eu estava assediando-o?! Será que ele sentiu Oxum, pombagira, Xangô e todos os orixás e entidades que me acompanhavam no candomblé?! Será.... será....será...???

O leitor pode imaginar a ira que isso gerou em mim?

Foi isso que aconteceu no fim de semana e que escrevi no post anterior.

E de repente estou eu lá, no meio de uma rua escura e deserta, abraçando uma senhora que nunca vi na vida e que chora no meu ombro a perda do filho. Fico imaginando se ela tivesse ido conversar com ele, com esse senhor. Ele não a abraçaria? Não abraçaria uma mãe que chora a morte de seu filho por ser MULHER?? Iria ignorá-la e falar o que falou para mim sem nenhuma justificativa plausível? 

Que espécie de cristão é esse, que separa as pessoas por gênero?!

Bom, sorte que não foi com ele. Foi COMIGO. E eu a abracei e a consolei como pude.

E isso gerou em mim um sentimento de auto estima que, de certa forma, amenizou um pouco a raiva que nutri durante todo o fim de semana. Não só raiva.... rejeição, principalmente. E fui muito bem 'trabalhada' nesse sentimento durante a minha vida.

Evidente que os livros que ele escreveu e que eu tinha comprado, não li e provavelmente não lerei. Uma pessoa que não tem a capacidade de abraçar uma mulher não tem absolutamente mais nada para me ensinar...

Mas fico pensando no porquê dessas coisas acontecerem comigo da forma que acontecem, sabe. Pôxa, entre duas mil pessoas... e por que o casal ficou lá até o final do final do final? Nós saímos junto com os últimos funcionários.

Sei lá. Mas sinto que tem lições aí. Eu sinto que estou sendo assistida e também provada. Provada. Provada. E ouvida. É meio... gera um certo temor, isso.






terça-feira, 2 de agosto de 2016

Wild Woman







Como sou bipolar, santo Deus.

Do contra, do contra, do contra até a eternidade... que difícil lidar comigo.

Teimosa! Arrogante. Mas divertida.

Rs, hoje é o dia de se auto-pregar na cruz, mas com aquela pitadinha básica de humor e ironia que me salva tantas e tantas vezes.

Fico pensando nas diversas situações responsáveis pela formação moral, intelectual, psicológica do cidadão. Fora sua natural personalidade, temperamento, gostos específicos etc. Sua criação.... e todo o resto que vai contribuindo lentamente para uma pessoa se tornar uma  complexa caixinha  ambulante.

Sempre defendi a tese que afirma serem os artistas pessoas fora do cabo, em maior ou menor grau. Assim... fora da mesmice. Outro olhar, outro jeito de sentir, outro jeito de arrepiar, outras prioridades, mil pensamentos ao mesmo tempo na cabecinha. Confusos. Perdidos. Alheios. Isso, claro, sempre me tomando como base, mas também sempre observando os coleguinhas.

De verdade ainda não cheguei numa explicação satisfatória para algumas coisas e também cansei de glamourizar algo que pode ser simplesmente um "filho, vc tem depressão".

Meu marido sabe que casou com uma mulher singular e tem rebolado pra entender o que se passa por aqui, já que agora eu sou a mulher mais falante da face da terra. Ao invés de um "nada" calado, desato a falar sem culpa, sem medo, sem muita agressividade mas também sem refrear absolutamente nada. Nada. Nada. 

E o pior, eu tenho me aceitado assim. O filtro que aparentemente me mostrava a linha que não podia ser cruzada não existe mais. Tenho me aceitado egoísta, mimada, uma mulher boêmia - mas que adora cozinhar ouvindo música e com uma taça de vinho seco na mão (pois até nisso mudei! O suave não desce mais!). 

Tenho tentado contagiar o próximo com um pouco de atrevimento - no sentido de "vamos lá, vamos fazer, vamos arriscar, vamos, vamos, vamos" - sem pensar muito e sem um pingo de vergonha na cara.

Não sei, acho que o Pristiq.... ?

Pois não se trata mais do desânimo, da preguiça, ainda que eu continue sendo a mesma dorminhoca de sempre. Se trata de um novo resultado após situações adversas, um fuck off pra tudo e pra todos, pois neste fim de semana  fui profundamente magoada. Profundamente. Uma mágoa que tirou todo o meu tesão. Ao invés de segurar a barra, desatei a chorar. Duas horas de choro ininterrupto, num shopping lotado, enquanto comia um lanche (rs, não ignoro um lanche nem na total tristeza do ser) e era observada discretamente por todas as pessoas das mesas próximas. O domingo foi como  aquele dia após a ressaca.   

Como todo mundo, já chorei bastante nessa vida. Como alguns, guardo as mágoas na geladeira.

Ontem já estava animadíssima de novo. 

É o que falo, eu tenho um senso de humor providencial. Thanks God. 

E vamos seguindo.