As coisas vão acontecendo e eu passando por tudo, mas na hora de sentar e escrever aqui me bate um desânimo...
Eu sei que tenho que usar o blog como diário pessoal e realmente extravasar, mas... às vezes as situações passam batido e fica apenas a conclusão final. E essa, a conclusão final, não é nada animadora.
Aqui e ali os exemplos se repetem, de oportunismo, de ingratidão, de tentativas de ser esperto (a)... sabe aquele tipo de pessoa que se acha muito espertão? Esse tipo comete um dos piores erros ao se achar espertão, que é justamente subestimar a esperteza dos outros.
Tenho me deparado muito com gente desse tipo nos meios que frequento: trabalho, igreja, amigos...
Para ser de fato esperta, uma pessoa precisa também ser sutil. Pra essa esperteza dar certo ela precisa estar no mínimo duas jogadas à frente do adversário, uma mistura de pôquer com xadrez, algo assim. O blefe do pôquer com o raciocínio do xadrez.
Me vem à memória o atento Dude ouvindo meus achismos políticos e, para meu pasmo, não só ouvindo como dando toda a atenção do mundo. Eu dizia a ele - brincando, é claro - que faria um curso para ser a 'marqueteira' dele. E a resposta era "curso pra quê? Vc é mais esperta do que muito marqueteiro famoso que eu conheço!".
Sim, ele gostava de mim e eu sei. Mas quando começou a colocar em prática algumas das minhas sugestões, comecei a prestar atenção no que eu própria estava dizendo.
Hoje recebo um recado pelo whats, às 9 da manhã: "Dofonitinha,bom dia. Compra peixe pra mim?". Era a 'mãe ekedy'. Ekedy é a mulher que não recebe santo, não entra em transe, ficando responsável por cuidar dos filhos e filhas que recebem - vestem, dão água, guiam o orixá. Ela é sempre muito respeitada dentro do candomblé, pois é uma honra cuidar de um orixá.
E a tal ekedy, que vai cumprir com sua obrigação de 1 ano de feitura, precisa do peixe para uma cerimônia chamada 'Bori'. Em Capivari não tem, mas na feira de Elias - toda quinta - tem...
Lá vou eu, comprar o peixe. Me divirto com as perguntas do vendedor, um senhor crente - uma vez comprei 6 corvinas, também para o candomblé e ele quase infartou querendo saber o que eu ía fazer com 6 peixes, pois peço pra ele tirar apenas as escamas e a barrigada, deixando o peixe inteiro. Expliquei, falando a verdade. "A gente põe na folha de bananeira e tempera apenas com azeite de dendê e sal". E ele "mas é churrasco? É o quê?". rsrsrsrsrsrs
Claro que não falava e continuo não falando que é para um ritual de candomblé.
E aí eis que o pai-de-santo, meses sem falar comigo, volta a ficar amigo e me convida para almoçar com ele amanhã. Até me ensinou um caminho alternativo pelas estradinhas de terra que eu tanto gosto de me aventurar (mas já senti para amanhã ir pelo caminho normal). Vou almoçar sim, vou levar o peixe, ele pediu algumas outras ervas, tenho todas em casa.
A pergunta é simples: por que a amizade agora?
E aí, não sei se o leitor vai acompanhar meu raciocínio, mas é a tal história: em março do ano que vem, se eu estivesse no candomblé, teria que dar minha obrigação de 3 anos. Existem 4 obrigações: 1, 3, 5 e 7 anos. Só depois delas é que vc está apto (a) a ser um pai ou mãe de santo. São 7 anos de estudo.
Claro, isso numa casa tradicional como a nossa. Assim como nas igrejas, também existem os charlatães, que nunca fizeram nada e resolvem sair por aí se auto-intitulando 'pai/mãe de santo' e 'pastor'. Aí a pessoa vai, cai na mão de um desses, fica com a vida no avesso e a culpa é do candomblé inteiro, todo mundo, de todo o planeta...
Há uma forçada de barra, sutil, sempre jogada nos 'laços inquebráveis da religião africana' para que eu volte e faça esses 3 anos. É caro, como tudo no candomblé é caro. E eles não forçam a barra com o Ricardo. Apenas comigo. Talvez o Ricardo saiba se posicionar melhor.
Na verdade quem me conhece vê na minha cara o que estou pensando ou sentindo, não é uma coisa tão falsiane assim. É que eu aprendi a esconder sentimentos. Anos e anos e anos e anos escondendo sentimentos. Aprendi a ser desconfiada. Infelizmente. Por isso, não me surpreendo com os exemplos que estou tendo, dia após dia, de filhaputisse alheia. Eu já os esperava. O que me deixa chateada não é a proximidade apenas, não é por ser comigo; e sim porque o que recebo é apenas uma amostra em menor escala de como o mundo age.
Não duvido do carinho que o pai de santo tem por mim mas eu sei, como eu sei em outros exemplos que não vou dar aqui, que não é o carinho que o move, apenas.
"Ainnnnnn Lucy, descobriu o Brasil..." tá, nós vivemos fazendo escolhas, todos nós. Mas eu priorizo pessoas. Outras pessoas priorizam supostos benefícios, e isso que é o pior: SUPOSTOS BENEFÍCIOS! Estão tão desesperadas que colocam em risco amizades e afins por algo que não está nas mãos, não está garantido. Mas "dane-se, o que importa é que eu posso talvez quem sabe um dia me dar bem no lance, então bora". Ainda se fosse por algo mais real... não vou crucificar quem prioriza benefícios, o problema é sempre o mesmo, ou seja, até onde priorizar benefícios se isso põe em xeque amizades? O que é mais importante? Infelizmente, estou rodeada de gente que joga a amizade pra último lugar. Eu tentaria um meio termo, porque a roda gira, um dia lá em cima, outro lá embaixo.
Eu sou daquelas que vai percebendo o lance e dando corda, me remoendo por dentro mas com um sorriso. Hoje escapou: tive uma discussão com a coordenadora do Guri assim que cheguei. Fui extremamente agressiva. Tremia. Uma daquelas situações em que a moça aqui dá um boi para não entrar. Não retirei uma palavra, entretanto. Não pedi desculpas. Estou na minha sala, Guri rolando, com certeza todos os professores já sabem tudo o que eu falei (porque sobrou pra eles, inclusive) e eu reforçando mais uma vez a fama de difícil. Eu escrevo como se me importasse ainda com isso, mas a verdade é que não me importo.
Depois que eu jogo bosta no ventilador, também não faço mais questão de limpar a sujeira. Demoooora. E é aí que está o perigo.
Ontem, na apresentação final, tive que ser profissional e, pelas crianças, aceitar apresentações que não aconteceriam se não fosse por elas. Curiosamente, no momento dessas apresentações, o som - que já havia sido testado antes e que estava tocando normalmente - pára de funcionar.
Cinco, dez minutos e ninguém consegue fazer o pendrive rolar ou a caixa emitir um ruído que fosse. Na saia justa, começo a fazer piada, dizendo que se ficasse na mesma posição que as meninas estavam - todas já posicionadas, encurvadas - por tanto tempo, com certeza andaria uma semana daquele jeito. A platéia ri, mas o som não volta.
Por dentro, uma mistura de espanto e ironia vêm. Eu estava com raiva. Olho para o rostinho delas e começo a ficar preocupada, e a raiva vai embora.
Do nada, a música começa.
Outro embaraço: dessa vez é a imagem no telão que trava.
Ontem, na apresentação final, tive que ser profissional e, pelas crianças, aceitar apresentações que não aconteceriam se não fosse por elas. Curiosamente, no momento dessas apresentações, o som - que já havia sido testado antes e que estava tocando normalmente - pára de funcionar.
Cinco, dez minutos e ninguém consegue fazer o pendrive rolar ou a caixa emitir um ruído que fosse. Na saia justa, começo a fazer piada, dizendo que se ficasse na mesma posição que as meninas estavam - todas já posicionadas, encurvadas - por tanto tempo, com certeza andaria uma semana daquele jeito. A platéia ri, mas o som não volta.
Por dentro, uma mistura de espanto e ironia vêm. Eu estava com raiva. Olho para o rostinho delas e começo a ficar preocupada, e a raiva vai embora.
Do nada, a música começa.
Outro embaraço: dessa vez é a imagem no telão que trava.
Algumas respostas, sutilmente como disse no começo, serão dadas. E muito bem dadas. Respostas sem direito à tréplica.
Mas não pense que, com isso, estarei feliz. Não. Não estarei.
Em meio a esse certo turbilhão de emoções, tento agir do modo mais correto que puder, o que não significa muita coisa, mas há um esforço. E há feedbacks positivos também: hoje ouvi da recepcionista que só continua aqui por minha causa, porque gosta de mim e me considera sua amiga.
Legal, né?
O fato é que assim. Transitando no meio desse povo ridículo, que briga por supostos cargos, benefícios e afins, eu vou reescrevendo a lista de amigos próximos - que já não era tão grande. Ficou minúscula. Eu não posso e nem quero dar abertura para quem não tem a alma altruísta, para quem não possa contribuir com paz para comigo.
É isso.
P.S. Arrepiada onvindo Alanis no fone!
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