segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Música, planeta, inadequação

Música! Pois bem.

Hum. rsrsrs

Como em tantos outros assuntos, eis um assunto em que não consigo me concentrar apenas  num estilo. E FOI ASSIM DESDE O COMEÇO.

"Diz a lenda" que toquei o tema de uma novela com dois anos, num pianinho de brinquedo, na sala, na frente de papai e mamãe. Mamãe, esperta, comprou outro pianinho que vinha com um livrinho e começou a me ensinar.

Não, ela não sabia. Mas no livrinho era tipo o dó era 1, ré era 2... etc. E, por números, havia uma infinidade de melodias fáceis.

Eu morava em São Paulo, num  sobrado. Era espoleta. Pulava o berço para andar pela casa. Com medo que eu caísse na escada, colocaram um portãozinho. Aprendi a abrir o portãozinho...

Vendo hoje, em retrospecto, percebo que eu sempre fui... não sei, difícil de segurar.

Uma das lembranças mais lindas da minha vida vem de quando eu tinha uns 3, 4 anos (sim, eu me lembro das coisas dessa época. Algumas). Minha mãe sentada na cama comigo, pianinho na cama, e ela pacientemente me ensinando músicas de criança. Um amor. Um amor de mãe.

A primeira vez em que vi um piano real, chorei. Eu queria aquilo. Queria mais do que tudo. Fiz um escândalo. Mas era muito pequena e tive que esperar até os seis anos para finalmente ter aulas. Eu tenho uma coisa comigo desde sempre, a impressão que eu já sabia música. Eu já entendia música. Eu não tinha técnica, eu não sabia tocar, mas eu entendia. É como se eu já soubesse.

Eu nunca quis outra coisa para a minha vida.

Bem, o erudito. O erudito é inacreditável, é impressionante, é de uma beleza incomensurável, é um xodó, é minha linguagem. Não posso negar, o erudito é minha linguagem. É onde me sinto à vontade, "em casa", digamos assim. Mas eu nunca me restringi apenas ao erudito.

"E do que você gosta?" De tudo. E a dificuldade para se encaixar em algum lugar, musicalmente falando? E a dificuldade para se encaixar em algum lugar NA VIDA? Outro assunto.

Eu gosto de tudo e ao mesmo tempo não pertenço à nenhum estilo específico - tirando o erudito, mas não significa que eu pertença ao erudito, significa apenas que me sinto à vontade no erudito. Porque eu ouço sem problema nenhum "Terra Tombada", Chitãozinho e Xororó, e "Before I Forget", Slipknot.

Como alguém assim vai se encaixar em alguma tribo musical? O samba me fala na alma. Se fosse escolher, hoje, se tivesse uma carreira e me perguntassem o que gostaria de cantar, seria "samba".

Mas é porque as letras dos sambas antigos são de uma profundidade sem tamanho. Tem sabedoria nelas, tem sofrimento, tem ensinamentos, tem conselhos. Tem fé. Tem um monte de coisas. Tem poesia. Eu jamais fico no raso.

Eu me sinto uma pessoa que não é daqui. Sempre me senti assim. Eu olho tudo com uma curiosidade de criança, mas nada me define ou me prende de fato. Eu sinto que estou de passagem, que não pertenço... a questão de se sentir diferente não deve ser confundida com "se sentir superior". Não.

É apenas uma inadequação permanente, um sentimento que fica comigo, lá no fundo. Na verdade, olho o mundo com uma certa tristeza, um certo desapontamento e perplexidade. Eu me divirto, eu sinto, eu choro, eu rio. Mas, desde criança, a vontade de subir em lugares altos e observar apenas - de novo, com perplexidade - o mundo, as pessoas, as situações, tudo, é algo muito presente.

Tudo aqui parece efêmero e... não sei, mesquinho. De pouca importância. Há coisas muito importantes mas as pessoas, a maioria, não dá valor a essas coisas. Elas dão valor à coisas imediatistas. Elas comem porque sentem fome, bebem porque sentem sede, dormem porque sentem sono... agem sob impulsos, como os animais. Mas, diferente dos animais, há raciocínio lógico no homem, deixado em segundo plano muitas vezes. Elas deixam esses e outros impulsos serem mais importantes do que realmente são. Na verdade, tudo vira um pretexto para uma tentativa desesperada de prazer, um prazer que possa preenchê-las.... porque são incompletas e, na maioria da vezes, infelizes. Só que elas não sabem.

Não há como você pertencer a uma raça que mata seu semelhante por um par de tênis ou que põe fogo em seu semelhante apenas pelo prazer de ver o outro morrer.

Não há defesa para o ser humano, se houver um grande tribunal. E, na verdade, creio que há. Creio que ele, o ser humano, já tenha sua sentença há muito, muito tempo.

Algumas pessoas se perdem aqui porque não conseguem lidar com tudo isso. O mundo é demais para elas. Esse mundo é demais para elas. Elas estão em depressão e nem sabem que esse é o motivo. Elas se esforçam para seguir adiante mas são constantemente bombardeadas com imagens e mensagens negativas. Elas não sabem, mas isso adentra no fundo da alma delas. E elas se sentem fracassadas, porque não há nada que possam fazer a respeito. São tristes. Elas também têm a perplexidade. Viram artistas, mas podem ser médicos, na verdade não há nenhuma profissão distinta para classifica-las, porque estão por aí.

Existe um grupo de pessoas que caminha com dificuldade na densa atmosfera desse lugar.




















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