domingo, 16 de outubro de 2016

Música, bullying e afins

Fui dormir à tarde e acordei pior do que estava, totalmente dessituada, confusa, com a garganta seca, doendo, cabeça pesada e tendo que aturar o apelido "carinhoso" de 'brontossauro' ou 'brontossaurinha' (mais bonitinho esse, né?) ...

Até fui procurar no google porque não me lembrava como era um brontossauro. São herbívoros. rs Total constrangimento dormir fora de casa, ou no carro,  mas alguns amigos já estão acostumados. 

Isso, é claro, não os impede de tirar sarro. 

Sonhos, mil sonhos... como eu sonho. Sempre. E eu sempre prestei atenção nos meus sonhos, mas às vezes não passam disso... sonhos. Desconexos, absurdos. Já criei músicas inteiras (e inéditas) em sonhos. Algumas reproduzi, estão no cd gospel que fiz. Algumas esqueci completamente. Tem um lance de você dormir com um caderno e anotar seus sonhos. Numa época, dormia com um caderno de música ao lado da cama. E foi assim que acabei compondo umas três músicas, ou pelo menos o refrão, ou o que eu lembrava delas.

Eu tenho um  jeito bizarro de notação musical que eu inventei na escola, porque quando eu era criança eu realmente compunha muito. E nunca tinha um caderno de música à mão. E também achava demorada a escrita (só muito recentemente eu consegui escrever partitura tosca, sem fórmula de compasso, sem haste nas notas quando a coisa é fácil, coisas que só eu entendo, na pressa). Então eu anotava de outro jeito. Tenho muito dessas anotações guardadas, a maioria esboços de refrão grudento. Sempre acreditei num refrão grudento, o resto é resto. rs

Não é bem assim, mas vamos concordar que um refrão matador às vezes segura muita coisa, né.

O Café Society tem se tornado cada vez mais exótico e eu realmente não sei onde a coisa vai parar. O Café, pra começo de conversa, foi concebido para ser um trio, não uma dupla. Sempre foi um trio. Há alguns anos tem sido uma dupla. Temos um aaaaaamplo repertório e, como sou eu que toco, devo confessar que não fico horas e horas preocupada com "tenho que pegar a música tal para o show de sexta". Eu pego um dia antes e eu sei que vai sair. Só algumas coisas que vão me dar um pouco mais de trabalho é que realmente estudo. Coloco coisas que não colocaria (como Hello, da Adele... nunca gostei), mas o público pede e eu cedo. Mas a premissa do Café é uma falta de compromisso total em agradar o público. Eu quero me agradar primeiro.

A gente tem sorte de comprarem a nossa ideia. Hoje, ainda que em menor grau, essa premissa continua. A coisa funciona meio que "Esfinge feelings", "decifra-me ou devoro-te"... eu vou para conquistar com a força do que eu quero cantar, e não ceder ao que o público quer ouvir. Eu quero conquistar o público, mas com a MINHA postura, as MINHAS músicas preferidas, a MINHA ideia. A postura do Café é desafiadora. 

Acho que reflete um pouco a minha postura na vida, sem falsa modéstia. Rebelde.

Mas eu sei ceder se for preciso.

Ultimamente temos ficado alternativos demais até para mim. Daqui a pouco estamos tocando com chaleira, usando tubo de pvc... sei lá. Uma coisa legal é que, agora com o piano, coloquei algumas peças eruditas. E, novamente, o povo compra. Minha alegria é pedirem Kaine ou virarem a cabeça quando toco algum Caetano lado E. Ou quando toco Arcade Fire. Mas minha alegria também é tocar "Talvez", da Joana, e ver o casal idoso se deliciar. Ou Jane Duboc. Coisas bregas assim. Na verdade eu não acho brega; eu entendo a qualificação "brega", mas dane-se a qualificação.

Eu nunca entendi muito bem os critérios de qualificação musical. Pra mim tudo é música. E grande parte dessa pretensa qualificação é preconceituosa e se apóia muito mais em "quem canta" do que na música em si.

Já a Brexó, não. Com a Brexó a visão é um pouco mais cordata porque são seis cabeças pensantes, seis integrantes diferentes entre si, algumas coisas convergem, algumas divergem e é preciso respeito ao grupo. A Brexó é um prazer extraordinário e sinto o quanto melhorei como cantora nesses anos. Aos trancos e barrancos, às vezes. A Brexó é uma banda que tem que ser única, ainda que existam 500 bandas tocando flashback. E ela tem todo o potencial do mundo para ser exatamente o que visualizo para ela. Mas é preciso excelência, antes de se atrever a ser única. Em outras palavras, é preciso tocar bem, e muuuuuuuito bem. 

Um lado meu é cruel com os erros meus e dos outros. Outro lado tenta fazer a linha "faz parte, vamos nos divertir". Acho que um meio termo aí seria o interessante, mas a verdade é que o lance da perfeição musical ainda é forte em mim, porque é o que faço no Café: eu garanto que a maioria das músicas não terão erros. Com isso, me sinto livre para o resto, porque ninguém poderá dizer que eu não toco bem. Numa banda comercial como a Brexó, erros têm que ser exceção.

Ou não existirem.

Em muitas apresentações minhas de piano, com a música na mão, na hora algumas passagens saíam enroladas e não muito claras. O nervosismo entrava em ação. Eu sei que faz parte. Mas hoje não há nervosismo em relação à execução musical porque, primeiro, no Café eu faço coisas simples e, segundo, na Brexó estou segura nas músicas. Há, sim, uma preocupação com a banda. Há, sim, uma ansiedade horrorosa antes de cada apresentação porque quero o grupo fazendo bonito. Existe, é claro, uma irritação a cada vez que não encaixo uma segunda ou terceira ou quando não entro em acordo com a outra cantora (coisa que tem acontecido com certa frequência. Acordo "musical", bem entendido). Fico puta em músicas como Dancin days, por exemplo, que é a coisa mais chula do mundo e na hora não nos entendemos nas divisões de voz simplesmente porque NÃO COMBINAMOS antes quem faz o quê e já são duas apresentações com o mesmo ridículo erro das duas cantarem a mesmíssima voz. Falha minha. Esquecimento meu. Gosto da frase "o diabo mora nos detalhes", embora isso não seja um detalhe. 

Detalhe é aquele acorde maior com sétima maior na hora certa, é aquele 'salzinho' extra que os outros (das outras bandas) passam por cima sem a menor cerimônia. Não me interessa que os ouvidos não estejam treinados, não me interessa que não esteja tocando para músicos (vai saber!), não me interessa que o povo "não entende" (vai saber!!), o que me interessa é ver deleite no rosto alheio.


















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