segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Ricardo.

"Vc não menciona meu nome nesse blog, né?" foi a pergunta do meu esposo.

"Não. Vc quer que eu escreva sobre vc?" respondi. "Fique à vontade", veio a resposta.

Escrever sobre o Ricardo. Bom... 

A gente se conheceu num a época difícil da minha vida, com meu pai doente, eu ciente da seriedade da coisa depois de salvá-lo de uma parada cardiorrespiratória por conta da rapidez com que acionei o hospital. Estava atenta naquela noite. Meu sono era intermitente. Quando ele começou a tossir sem parar, antes das 6 da manhã, imediatamente levantei e chamei uma ambulância.

Nas semanas que se seguiram, ele internado na UTI, eu tendo a ajuda preciosa do Erike, Ricardo se aproximou. Eu já o conhecia, da igreja. Na verdade o conheci num programa de rádio. O que me chamou a atenção nele foi a camiseta que vestia, com menção ao Oscar. "Ele gosta de filmes, huummmmmm" foi meu pensamento, porque a última coisa que eu queria era namorar com um crente chato, fechado ao mundo, trevoso. 

Nesse programa de rádio ele nem olhou para a minha cara, apenas eu o observei. Sabia que ele era de fora da cidade porque conhecia todos os carinhas daqui.

Quando meu pai voltou para casa, precisava de cuidados constantes, porque veio com uma bolsa que continuamente limpava o canal urinário e era preciso trocá-la. Contratei uma enfermeira. Eu não podia ficar sem ninguém para revezar comigo, eu precisava dormir também. E essa enfermeira me incentivava a sair de casa e não ficar 24 horas presa nele. Foi num desses incentivos que aceitei um convite para almoçar fora com o Ricardo.

Três meses se passaram, meu pai chegou a conhecê-lo, chamou-o uma vez para junto da cama, isso já na Unicamp, no final da história toda. 

O choque do falecimento do meu pai não se compara ao falecimento da minha mãe. No fim eu estava rezando para que Deus o levasse, pois não aguentava vê-lo sofrer sem poder fazer absolutamente nada. Então, foi uma espécie de alívio quando ele finalmente descansou, mas é como toda morte... você nunca está preparado realmente. A ficha cai nos dias, semanas e meses seguintes. E Ricardo estava do meu lado o tempo todo.

Comecei a gostar do jeito simples dele, romântico, extremamente bem humorado. E ele ainda era bonito! Ele era um cara descolado e vivido, tinha uma voz linda. Me pediu em namoro numa praça pública em Indaiatuba, ajoelhado diante de mim, as pessoas passando e olhando, aplaudindo. 

E aí tudo foi rápido, nos casamos e começamos a nos conhecer dentro do casamento, de verdade. Evidentemente, os problemas surgiram.

Poderia descrever muitos defeitos dele, mas os principais: ele era ciumento, agressivo. Totalmente impaciente. Me dava respostas atravessadas que eram igualmente respondidas, eu tenho os mesmíssimos defeitos. Um temperamento forte e difícil e dobrar, e eu, carente, exigindo atenção total, sem paciência com a igreja, aturando a igreja, fazendo seminário (!), os dois imersos na igreja evangélica mas, aqui e ali, fugíamos para qualquer bar e eu, escondida, bebia, enchia a cara. 

Eu posso dizer, hoje, que a gente tentou tudo o que podia e o que não podia para a igreja funcionar na nossa vida, mas éramos nós que não nos encaixávamos nela. Mas nós queríamos. E tentamos. Ele não se sentia tão mal lá, mas eu.... eu comecei a pegar uma birra de HOMENS.

Vai vendo. 

O ambiente machista da igreja me repelia. Nessa época a gente já estava em Indaiatuba e eu ajudava a Soninha com o coral da Nazareno, enorme. Tocava piano, tínhamos lançado um cd, viajávamos por aí para divulgá-lo, muitas histórias interessantes nesse interím. Mas espiritualmente eu não estava feliz. Eu era líder de um ministério mas não era consultada nas horas das decisões, o que me irritava profundamente. Mas devo admitir: numa época aqui, antes de irmos para Indaiatuba, a igreja estava funcionando. O louvor era lindo, redondinho, muito melhor do que a igreja enorme da Indaiá. 

De repente tudo foi por água abaixo e ele quis se separar de mim. 

Ele tinha os motivos dele. A gente não se entendia. Eu não conseguia superar muitas coisas. Ele achava que estava tudo certo, mas na verdade não estava, e eu não estava feliz. Pra complicar, uma terceira pessoa - minha melhor "amiga" - se meteu no casamento e ele saiu de casa para pensar se ficaria comigo ou com ela.

Foi um choque, mas não insisti muito. Numa segunda, estava empacotando as coisas dele quando ele me liga, querendo voltar. Conversamos. Decidi voltar. Pediu perdão. Eu também pedi, sabia que tinha negligenciado algumas coisas. Voltamos.

Não vou negar, não foi fácil superar isso. Fui obrigada, depois de anos, a voltar na igreja e perdoar essa moça na frente do pastor, para que ela pudesse continuar com as atividades na igreja. Chorando, ela me pediu perdão. Eu a abracei e cumpri o protocolo, pastor sentado, atento, observando. Disse que a perdoava.

Rs. Quem me conhece sabe. Minha vontade era acabar com a vida dela.

Ela teve o que mereceu, ficou muito marcada por esse episódio e, por continuar na igreja, teve que arcar com as consequências disso. Hoje acredito que tudo está superado, pelo menos da minha parte. Nem me lembro que ela existe. Não, não pense que o perdão está de alguma forma ligado a uma suposta ligação de amizade novamente. De maneira alguma. 

Aí meu casamento realmente começou, sem máscaras de ambos os lados. E eu fui me sentindo segura novamente. Passamos por cima disso e não ficou ressentimento nenhum de todo esse rolo. Ficaram, sim, algumas lições importantes. 

O que eu busco no casamento, antes de mais nada, é um parceiro para a diversão. Sim. Porque não adianta, eu acredito que serei uma eterna moleca, e não poderia ser diferente porque senão não conseguiria acompanhar o ritmo das piadas do Ricardo. Só alguém que gosta muito de zoeira consegue ficar ao lado dele, porque ele é zoeira a maior parte do tempo, uma criança. Continua com alguns defeitos, maneirou em outros, assim como eu também tive que maneirar nos meus. Mas existem enormes qualidades. Franco. Sensível ao extremo. Companheiro. Ricardo é de escorpião... intenso, profundo, difícil, mas acaba se tornando um desafio para mim chegar lá, no âmago dele, fazer com que ele se abra para mim, com que demonstre as emoções, as fraquezas, diante de mim. Não sou a mulher que vai botar banca em cima disso. Eu sou a companheira que irá ajudá-lo. Claro que existem os momentos sérios, de conversas profundas. Ainda existem as brigas, poucas. 

Brigas. Eu sou terrível. Eu admito. Eu sou agressiva. Não me faça perder o controle porque eu não respondo por mim. Existe esse lado. Mas hoje também existe um sentimento de "preguiça" em relação a isso. Entre ter razão e ter paz, acabo escolhendo a segunda opção. O que colaborou muito para que minha relação com o Ricardo ficasse melhor foi que aquela birra contra homens - existe uma razão bem específica para ela - foi diminuindo com o tempo. Foi ficando pequena, foi sendo entendida, assimilada, compreendida, perdoada. 

Isso graças a Deus e à Desatadora, em primeiro lugar e, em segundo lugar, a alguns homens que conheci e que se mostraram sensíveis, amigáveis, honestos, amigos, compreensivos. O Ricardo nunca foi invasivo no que diz respeito ao que eu penso. Ele nunca impôs alguma coisa nesse sentido, sempre respeitou minhas dúvidas, questionamentos. Acho que ficou mais fácil para ele a partir do momento em que comecei a me abrir de forma franca. Porque eu tive, no começo, muuuuuuuita dificuldade em me abrir. E ele não tinha bola de cristal para saber o que eu estava pensando.

Eu sou assim até hoje, as pessoas que me conhecem mesmo são pouquíssimas.

E hoje, mesmo depois de 10 anos juntos, continuamos nos conhecendo mais e mais. Eu continuo, sim, exigindo atenção. E ele me dá. Nós não somos pessoas perfeitas e sabemos disso mas, lado a lado, estamos tentando fazer o nosso melhor um pelo outro, sem perder o bom humor, as brincadeiras um com o outro, a aceitação um com o outro, a tiração de sarro de um para com o outro, o porto seguro que ambos querem quando chegam em casa depois do trabalho. Um casamento de parceria e com amor. Porque, no fundo, é o amor que segura tudo.










domingo, 16 de outubro de 2016

Aí, ontem, Jeremias que não bate córner se diz umbandista e a identificação é imediata.

Falo que sou do candomblé. O fato é que não sou mais do candomblé.  rsrsrs...

Existe uma defesa imediata da minha parte quando alguém se diz umbandista ou candomblecista porque faz parte do povo de religiões africanas se auto-proteger. A gente compra muito a briga dos negros e de tudo que eles passaram e passam. Essas questões são muito fortes e, mesmo não sendo negras, as pessoas se envolvem em movimentos de reafirmação negra e tudo que se refira à auto estima negra (percebeu que eu nunca sei onde colocar o hífen, né? Na dúvida, como todo mundo escreve como quer hoje em dia, algumas vezes coloco, outras não, e buenas).

Fui almoçar com o pai de santo na quinta, fui tratada como rainha. Me serviu primeiro, coisa impensável num candomblé (hierarquia, baby. O pai pega primeiro, os filhos depois. Pede-se benção antes de comer). 

Sou desconfiada. Me tratou bem, não tocou no assunto religião, e eu volto pensando "ele fez isso pelo orixá. Fez para agradar Oxum". Há um receio grande no candomblé em relação à filhos de Oxum. Oxum é a personificação da bruxaria. Seus filhos são naturalmente bruxos. Ela, brava, é terrível.

O arquétipo combina comigo, é claro. Seu santo é sempre uma cópia da sua personalidade.

Se fosse chutar, na Brexó, talvez... Bruno seria Oxossi. Dinho, Xangô. Priscila, Iemanjá (avoada, como toda filha de Iemanjá). Andrelino é Oxaguian ou Ogum. Kico... voto em Oxossi, também. rs

Enfim, o fato é que uma filha de Iemanjá chegou bem na hora em que eu estava lá e começou a chorar, dizendo que tinha sonhado comigo e etc etc etc. Vim embora tranquila. Nada mudou. Nenhuma vontade de voltar ao candomblé. Mas por que falei que era do candomblé ao Jeremias? Pra defender a bandeira? Sim, pode ser.  O fato é que preciso parar com isso.

A casa tem os mesmíssimos problemas de convivência que tinha quando eu saí. E tudo o que eu não quero são "problemas de convivência". Mas não é só isso. Trata-se de fé também. Estou espantada com a minha própria firmeza no catolicismo. Evidente que essa força não é só minha. 

Estou sendo ajudada e sinto isso. Na verdade muita coisa já foi desligada, só falta EU colocar na cabeça que foram desligadas. Ficou uma certa nostalgia mas, entre nostalgia e força real há um abismo enorme. E a força real do candomblé, o axé - que insistem que continua comigo - sinto que foi, de certa maneira, desligado, sim.

Eu rezei para isso, não rezei? Eu não pedi para me desligar? Talvez a surpresa esteja no fato de ter sido atendida.

Falando em problemas de convivência, preciso conversar com a coordenadora do Guri e pedir desculpas. Ela entendeu minha explosão. E agora estou constrangida. Me arrependi do modo como agi (não me arrependo do CONTEÚDO, veja bem. Ainda me considero com a razão). Mas o modo de colocar foi desastroso. Amanhã preciso consertar isso, chamá-la para uma conversa e pedir desculpa pelo descontrole. Claro que vou colocar a culpa nas semanas de stress que passei na Cultura, mas eu sei que isso é apenas uma parte. A outra parte sou eu e minha dificuldade com o meu temperamento, sem desculpas.








Música, bullying e afins

Fui dormir à tarde e acordei pior do que estava, totalmente dessituada, confusa, com a garganta seca, doendo, cabeça pesada e tendo que aturar o apelido "carinhoso" de 'brontossauro' ou 'brontossaurinha' (mais bonitinho esse, né?) ...

Até fui procurar no google porque não me lembrava como era um brontossauro. São herbívoros. rs Total constrangimento dormir fora de casa, ou no carro,  mas alguns amigos já estão acostumados. 

Isso, é claro, não os impede de tirar sarro. 

Sonhos, mil sonhos... como eu sonho. Sempre. E eu sempre prestei atenção nos meus sonhos, mas às vezes não passam disso... sonhos. Desconexos, absurdos. Já criei músicas inteiras (e inéditas) em sonhos. Algumas reproduzi, estão no cd gospel que fiz. Algumas esqueci completamente. Tem um lance de você dormir com um caderno e anotar seus sonhos. Numa época, dormia com um caderno de música ao lado da cama. E foi assim que acabei compondo umas três músicas, ou pelo menos o refrão, ou o que eu lembrava delas.

Eu tenho um  jeito bizarro de notação musical que eu inventei na escola, porque quando eu era criança eu realmente compunha muito. E nunca tinha um caderno de música à mão. E também achava demorada a escrita (só muito recentemente eu consegui escrever partitura tosca, sem fórmula de compasso, sem haste nas notas quando a coisa é fácil, coisas que só eu entendo, na pressa). Então eu anotava de outro jeito. Tenho muito dessas anotações guardadas, a maioria esboços de refrão grudento. Sempre acreditei num refrão grudento, o resto é resto. rs

Não é bem assim, mas vamos concordar que um refrão matador às vezes segura muita coisa, né.

O Café Society tem se tornado cada vez mais exótico e eu realmente não sei onde a coisa vai parar. O Café, pra começo de conversa, foi concebido para ser um trio, não uma dupla. Sempre foi um trio. Há alguns anos tem sido uma dupla. Temos um aaaaaamplo repertório e, como sou eu que toco, devo confessar que não fico horas e horas preocupada com "tenho que pegar a música tal para o show de sexta". Eu pego um dia antes e eu sei que vai sair. Só algumas coisas que vão me dar um pouco mais de trabalho é que realmente estudo. Coloco coisas que não colocaria (como Hello, da Adele... nunca gostei), mas o público pede e eu cedo. Mas a premissa do Café é uma falta de compromisso total em agradar o público. Eu quero me agradar primeiro.

A gente tem sorte de comprarem a nossa ideia. Hoje, ainda que em menor grau, essa premissa continua. A coisa funciona meio que "Esfinge feelings", "decifra-me ou devoro-te"... eu vou para conquistar com a força do que eu quero cantar, e não ceder ao que o público quer ouvir. Eu quero conquistar o público, mas com a MINHA postura, as MINHAS músicas preferidas, a MINHA ideia. A postura do Café é desafiadora. 

Acho que reflete um pouco a minha postura na vida, sem falsa modéstia. Rebelde.

Mas eu sei ceder se for preciso.

Ultimamente temos ficado alternativos demais até para mim. Daqui a pouco estamos tocando com chaleira, usando tubo de pvc... sei lá. Uma coisa legal é que, agora com o piano, coloquei algumas peças eruditas. E, novamente, o povo compra. Minha alegria é pedirem Kaine ou virarem a cabeça quando toco algum Caetano lado E. Ou quando toco Arcade Fire. Mas minha alegria também é tocar "Talvez", da Joana, e ver o casal idoso se deliciar. Ou Jane Duboc. Coisas bregas assim. Na verdade eu não acho brega; eu entendo a qualificação "brega", mas dane-se a qualificação.

Eu nunca entendi muito bem os critérios de qualificação musical. Pra mim tudo é música. E grande parte dessa pretensa qualificação é preconceituosa e se apóia muito mais em "quem canta" do que na música em si.

Já a Brexó, não. Com a Brexó a visão é um pouco mais cordata porque são seis cabeças pensantes, seis integrantes diferentes entre si, algumas coisas convergem, algumas divergem e é preciso respeito ao grupo. A Brexó é um prazer extraordinário e sinto o quanto melhorei como cantora nesses anos. Aos trancos e barrancos, às vezes. A Brexó é uma banda que tem que ser única, ainda que existam 500 bandas tocando flashback. E ela tem todo o potencial do mundo para ser exatamente o que visualizo para ela. Mas é preciso excelência, antes de se atrever a ser única. Em outras palavras, é preciso tocar bem, e muuuuuuuito bem. 

Um lado meu é cruel com os erros meus e dos outros. Outro lado tenta fazer a linha "faz parte, vamos nos divertir". Acho que um meio termo aí seria o interessante, mas a verdade é que o lance da perfeição musical ainda é forte em mim, porque é o que faço no Café: eu garanto que a maioria das músicas não terão erros. Com isso, me sinto livre para o resto, porque ninguém poderá dizer que eu não toco bem. Numa banda comercial como a Brexó, erros têm que ser exceção.

Ou não existirem.

Em muitas apresentações minhas de piano, com a música na mão, na hora algumas passagens saíam enroladas e não muito claras. O nervosismo entrava em ação. Eu sei que faz parte. Mas hoje não há nervosismo em relação à execução musical porque, primeiro, no Café eu faço coisas simples e, segundo, na Brexó estou segura nas músicas. Há, sim, uma preocupação com a banda. Há, sim, uma ansiedade horrorosa antes de cada apresentação porque quero o grupo fazendo bonito. Existe, é claro, uma irritação a cada vez que não encaixo uma segunda ou terceira ou quando não entro em acordo com a outra cantora (coisa que tem acontecido com certa frequência. Acordo "musical", bem entendido). Fico puta em músicas como Dancin days, por exemplo, que é a coisa mais chula do mundo e na hora não nos entendemos nas divisões de voz simplesmente porque NÃO COMBINAMOS antes quem faz o quê e já são duas apresentações com o mesmo ridículo erro das duas cantarem a mesmíssima voz. Falha minha. Esquecimento meu. Gosto da frase "o diabo mora nos detalhes", embora isso não seja um detalhe. 

Detalhe é aquele acorde maior com sétima maior na hora certa, é aquele 'salzinho' extra que os outros (das outras bandas) passam por cima sem a menor cerimônia. Não me interessa que os ouvidos não estejam treinados, não me interessa que não esteja tocando para músicos (vai saber!), não me interessa que o povo "não entende" (vai saber!!), o que me interessa é ver deleite no rosto alheio.


















quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Uninvited





As coisas vão acontecendo e eu passando por tudo, mas na hora de sentar e escrever aqui me bate um desânimo...

Eu sei que tenho que usar o blog como diário pessoal e realmente extravasar, mas... às vezes as situações passam batido e fica apenas a conclusão final. E essa, a conclusão final, não é nada animadora.

Aqui e ali os exemplos se repetem, de oportunismo, de ingratidão, de tentativas de ser esperto (a)... sabe aquele tipo de pessoa que se acha muito espertão? Esse tipo comete um dos piores erros ao se achar espertão, que é justamente subestimar a esperteza dos outros. 

Tenho me deparado muito com gente desse tipo nos meios que frequento: trabalho, igreja, amigos...

Para ser de fato esperta, uma pessoa precisa também ser sutil. Pra essa esperteza dar certo ela precisa estar no mínimo duas jogadas à frente do adversário, uma mistura de pôquer com xadrez, algo assim. O blefe do pôquer com o raciocínio do xadrez.

Me vem à memória o atento Dude ouvindo meus achismos políticos e, para meu pasmo, não só ouvindo como dando toda a atenção do mundo. Eu dizia a ele - brincando, é claro - que faria um curso para ser a  'marqueteira' dele. E a resposta era "curso pra quê? Vc é mais esperta do que muito marqueteiro famoso que eu conheço!".

Sim, ele gostava de mim e eu sei. Mas quando começou a colocar em prática algumas das minhas sugestões, comecei a prestar atenção no que eu própria estava dizendo.

Hoje recebo um recado pelo whats, às 9 da manhã: "Dofonitinha,bom dia. Compra peixe pra mim?". Era a 'mãe ekedy'. Ekedy é a mulher que não recebe santo, não entra em transe, ficando responsável por cuidar dos filhos e filhas que recebem - vestem, dão água, guiam o orixá. Ela é sempre muito respeitada dentro do candomblé, pois é uma honra cuidar de um orixá. 

E a tal ekedy, que vai cumprir com sua obrigação de 1 ano de feitura, precisa do peixe para uma cerimônia chamada 'Bori'. Em Capivari não tem, mas na feira de Elias - toda quinta - tem...

Lá vou eu, comprar o peixe. Me divirto com as perguntas do vendedor, um senhor crente - uma vez comprei 6 corvinas, também para o candomblé  e ele quase infartou querendo saber o que eu ía fazer com 6 peixes, pois peço pra ele tirar apenas as escamas e a barrigada, deixando o peixe inteiro. Expliquei, falando a verdade. "A gente põe na folha de bananeira e tempera apenas com azeite de dendê e sal". E ele "mas é churrasco? É o quê?". rsrsrsrsrsrs

Claro que não falava e continuo não falando que é para um ritual de candomblé. 

E aí eis que o pai-de-santo, meses sem falar comigo, volta a ficar amigo e me convida para almoçar com ele amanhã. Até me ensinou um caminho alternativo pelas estradinhas de terra que eu tanto gosto de me aventurar (mas já senti para amanhã ir pelo caminho normal). Vou almoçar sim, vou levar o peixe, ele pediu algumas outras ervas, tenho todas em casa.

A pergunta é simples: por que a amizade agora?

E aí, não sei se o leitor vai acompanhar meu raciocínio, mas é a tal história: em março do ano que vem, se eu estivesse no candomblé, teria que dar minha obrigação de 3 anos. Existem 4 obrigações: 1, 3, 5 e 7 anos. Só depois delas é que vc está apto (a) a ser um pai ou mãe de santo. São 7 anos de estudo.

Claro, isso numa casa tradicional como a nossa. Assim como nas igrejas, também existem os charlatães, que nunca fizeram nada e resolvem sair por aí se auto-intitulando 'pai/mãe de santo' e 'pastor'. Aí a pessoa vai, cai na mão de um desses, fica com a vida no avesso e a culpa é do candomblé inteiro, todo mundo, de todo o planeta...

Há uma forçada de barra, sutil, sempre jogada nos 'laços inquebráveis da religião africana' para que eu volte e faça esses 3 anos. É caro, como tudo no candomblé é caro. E eles não forçam a barra com o Ricardo. Apenas comigo. Talvez o Ricardo saiba se posicionar melhor.


Na verdade quem me conhece vê na minha cara o que estou pensando ou sentindo, não é uma coisa tão falsiane assim. É que eu aprendi a esconder sentimentos. Anos e anos e anos e anos escondendo sentimentos. Aprendi a ser desconfiada. Infelizmente. Por isso, não me surpreendo com os exemplos que estou tendo, dia após dia, de filhaputisse alheia. Eu já os esperava. O que me deixa chateada não é a proximidade apenas, não é por ser comigo; e sim porque o que recebo é apenas uma amostra em menor escala de como o mundo age. 

Não duvido do carinho que o pai de santo tem por mim mas eu sei, como eu sei em outros exemplos que não vou dar aqui, que não é o carinho que o move, apenas.

"Ainnnnnn Lucy, descobriu o Brasil..." tá, nós vivemos fazendo escolhas, todos nós. Mas eu priorizo pessoas. Outras pessoas priorizam supostos benefícios, e isso que é o pior: SUPOSTOS BENEFÍCIOS! Estão tão desesperadas que colocam em risco amizades e afins por algo que não está nas mãos, não está garantido. Mas "dane-se, o que importa é que eu posso talvez quem sabe um dia me dar bem no lance, então bora". Ainda se fosse por algo mais real... não vou crucificar quem prioriza benefícios, o problema é sempre o mesmo, ou seja, até onde priorizar benefícios se isso põe em xeque amizades? O que é mais importante? Infelizmente, estou rodeada de gente que joga a amizade pra último lugar. Eu tentaria um meio termo, porque a roda gira, um dia lá em cima, outro lá embaixo. 

Eu sou daquelas que vai percebendo o lance e dando corda, me remoendo por dentro mas com um sorriso. Hoje escapou: tive uma discussão com a coordenadora do Guri assim que cheguei. Fui extremamente agressiva. Tremia. Uma daquelas situações em que a moça aqui dá um boi para não entrar. Não retirei uma palavra, entretanto. Não pedi desculpas. Estou na minha sala, Guri rolando, com certeza todos os professores já sabem tudo o que eu falei (porque sobrou pra eles, inclusive) e eu reforçando mais uma vez a fama de difícil. Eu escrevo como se me importasse ainda com isso, mas a verdade é que não me importo.

Depois que eu jogo bosta no ventilador, também não faço mais questão de limpar a sujeira. Demoooora. E é aí que está o perigo.

Ontem, na apresentação final, tive que ser profissional e, pelas crianças, aceitar apresentações que não aconteceriam se não fosse por elas. Curiosamente, no momento dessas apresentações, o som - que já havia sido testado antes e que estava tocando  normalmente - pára de funcionar.

Cinco, dez minutos e ninguém consegue fazer o pendrive rolar ou a caixa emitir um ruído que fosse. Na saia justa, começo a fazer piada, dizendo que se ficasse na mesma posição que as meninas estavam - todas já posicionadas, encurvadas - por tanto tempo, com certeza andaria uma semana daquele jeito. A platéia ri, mas o som não volta.

Por dentro, uma mistura de espanto e ironia vêm. Eu estava com raiva. Olho para o rostinho delas e começo a ficar preocupada, e a raiva vai embora.

Do nada, a música começa. 

Outro embaraço: dessa vez é a imagem no telão que trava. 

Algumas respostas, sutilmente como disse no começo, serão dadas. E muito bem dadas. Respostas sem direito à tréplica.

Mas não pense que, com isso, estarei feliz. Não. Não estarei. 

Em meio a esse certo turbilhão de emoções, tento agir do modo mais correto que puder, o que não significa muita coisa, mas há um esforço. E há feedbacks positivos também: hoje ouvi da recepcionista que só continua aqui por minha causa, porque gosta de mim e me considera sua amiga.

Legal, né? 

O fato é que assim. Transitando no meio desse povo ridículo, que briga por supostos cargos, benefícios e afins, eu vou reescrevendo a lista de amigos próximos - que já não era tão grande. Ficou minúscula. Eu não posso e nem quero dar abertura para quem não tem a alma altruísta, para quem não possa contribuir com paz para comigo.

É isso.

P.S. Arrepiada onvindo Alanis no fone!


















segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Cinco qualidades e cinco defeitos, please

Vamos lá!

Cinco qualidades:

1. Sou carinhosa.

2. Tenho empatia. É ruim, eu sei. Falam que é qualidade. Coloquei na lista de qualidade. Mas não é uma qualidade prazerosa.

3. Tenho senso de humor. Mais do que uma característica, vejo como uma necessidade. Se eu não tiver senso de humor, como vou caminhar por aqui?!

4. Sou justa.

5. Sou bondosa.


Cinco defeitos:

1. Sou impaciente. Disfarço, mas sou muito impaciente.

2. Sou crítica.

3. Sou impaciente. rs

4. Sou um pouco orgulhosa.

5. Sou manipuladora quando quero ser.

Na verdade, meu pior defeito é a falta de paciência. É brutal. Pra tudo. Como eu me forço a fazer coisas que exijam de mim calma, que sejam demoradas. É meu pior defeito.

Música, planeta, inadequação

Música! Pois bem.

Hum. rsrsrs

Como em tantos outros assuntos, eis um assunto em que não consigo me concentrar apenas  num estilo. E FOI ASSIM DESDE O COMEÇO.

"Diz a lenda" que toquei o tema de uma novela com dois anos, num pianinho de brinquedo, na sala, na frente de papai e mamãe. Mamãe, esperta, comprou outro pianinho que vinha com um livrinho e começou a me ensinar.

Não, ela não sabia. Mas no livrinho era tipo o dó era 1, ré era 2... etc. E, por números, havia uma infinidade de melodias fáceis.

Eu morava em São Paulo, num  sobrado. Era espoleta. Pulava o berço para andar pela casa. Com medo que eu caísse na escada, colocaram um portãozinho. Aprendi a abrir o portãozinho...

Vendo hoje, em retrospecto, percebo que eu sempre fui... não sei, difícil de segurar.

Uma das lembranças mais lindas da minha vida vem de quando eu tinha uns 3, 4 anos (sim, eu me lembro das coisas dessa época. Algumas). Minha mãe sentada na cama comigo, pianinho na cama, e ela pacientemente me ensinando músicas de criança. Um amor. Um amor de mãe.

A primeira vez em que vi um piano real, chorei. Eu queria aquilo. Queria mais do que tudo. Fiz um escândalo. Mas era muito pequena e tive que esperar até os seis anos para finalmente ter aulas. Eu tenho uma coisa comigo desde sempre, a impressão que eu já sabia música. Eu já entendia música. Eu não tinha técnica, eu não sabia tocar, mas eu entendia. É como se eu já soubesse.

Eu nunca quis outra coisa para a minha vida.

Bem, o erudito. O erudito é inacreditável, é impressionante, é de uma beleza incomensurável, é um xodó, é minha linguagem. Não posso negar, o erudito é minha linguagem. É onde me sinto à vontade, "em casa", digamos assim. Mas eu nunca me restringi apenas ao erudito.

"E do que você gosta?" De tudo. E a dificuldade para se encaixar em algum lugar, musicalmente falando? E a dificuldade para se encaixar em algum lugar NA VIDA? Outro assunto.

Eu gosto de tudo e ao mesmo tempo não pertenço à nenhum estilo específico - tirando o erudito, mas não significa que eu pertença ao erudito, significa apenas que me sinto à vontade no erudito. Porque eu ouço sem problema nenhum "Terra Tombada", Chitãozinho e Xororó, e "Before I Forget", Slipknot.

Como alguém assim vai se encaixar em alguma tribo musical? O samba me fala na alma. Se fosse escolher, hoje, se tivesse uma carreira e me perguntassem o que gostaria de cantar, seria "samba".

Mas é porque as letras dos sambas antigos são de uma profundidade sem tamanho. Tem sabedoria nelas, tem sofrimento, tem ensinamentos, tem conselhos. Tem fé. Tem um monte de coisas. Tem poesia. Eu jamais fico no raso.

Eu me sinto uma pessoa que não é daqui. Sempre me senti assim. Eu olho tudo com uma curiosidade de criança, mas nada me define ou me prende de fato. Eu sinto que estou de passagem, que não pertenço... a questão de se sentir diferente não deve ser confundida com "se sentir superior". Não.

É apenas uma inadequação permanente, um sentimento que fica comigo, lá no fundo. Na verdade, olho o mundo com uma certa tristeza, um certo desapontamento e perplexidade. Eu me divirto, eu sinto, eu choro, eu rio. Mas, desde criança, a vontade de subir em lugares altos e observar apenas - de novo, com perplexidade - o mundo, as pessoas, as situações, tudo, é algo muito presente.

Tudo aqui parece efêmero e... não sei, mesquinho. De pouca importância. Há coisas muito importantes mas as pessoas, a maioria, não dá valor a essas coisas. Elas dão valor à coisas imediatistas. Elas comem porque sentem fome, bebem porque sentem sede, dormem porque sentem sono... agem sob impulsos, como os animais. Mas, diferente dos animais, há raciocínio lógico no homem, deixado em segundo plano muitas vezes. Elas deixam esses e outros impulsos serem mais importantes do que realmente são. Na verdade, tudo vira um pretexto para uma tentativa desesperada de prazer, um prazer que possa preenchê-las.... porque são incompletas e, na maioria da vezes, infelizes. Só que elas não sabem.

Não há como você pertencer a uma raça que mata seu semelhante por um par de tênis ou que põe fogo em seu semelhante apenas pelo prazer de ver o outro morrer.

Não há defesa para o ser humano, se houver um grande tribunal. E, na verdade, creio que há. Creio que ele, o ser humano, já tenha sua sentença há muito, muito tempo.

Algumas pessoas se perdem aqui porque não conseguem lidar com tudo isso. O mundo é demais para elas. Esse mundo é demais para elas. Elas estão em depressão e nem sabem que esse é o motivo. Elas se esforçam para seguir adiante mas são constantemente bombardeadas com imagens e mensagens negativas. Elas não sabem, mas isso adentra no fundo da alma delas. E elas se sentem fracassadas, porque não há nada que possam fazer a respeito. São tristes. Elas também têm a perplexidade. Viram artistas, mas podem ser médicos, na verdade não há nenhuma profissão distinta para classifica-las, porque estão por aí.

Existe um grupo de pessoas que caminha com dificuldade na densa atmosfera desse lugar.




















Bom.

Semana passada foi uma semana difícil e eu só deixei a ficha cair quando cheguei na sexta, em casa.

Chorei bastante, por mim, pelos professores, pelos alunos e pela incômoda sensação de não ter conseguido fazer nem a metade do que gostaria de ter feito. E ainda ser podada nas apresentações finais e nos três recitais, fora a apresentação dos alunos, que eu iria fazer em cada mês.

Tive que lidar com o pasmo e a tristeza dos professores e somos nós, os que querem ensinar, que mais sofremos. É o professor que fica pensando "justamente agora que aluno tal conseguiu pegar tal música" ou "aprender tal golpe", ou "dançar tal coreografia"...

Há um abismo entre nós e o pensamento político.

Eu, na quinta, estava naqueles dias em que "não acordei". Embora eu tenha dormido a noite toda, na sexta o sono continuava. Dormi um absurdo de sexta para sábado, apenas para estar acabada de sono, no sábado! É claro que a luz do "isso não é normal" fica gritando na minha cabeça.

Fiz um feitiço.

Almocei, e voltei a dormir. Dormi por 4 horas. Eu tinha que tocar à noite e estava muito preocupada. Sonhei horrores, com muita gente (muitas explicações nos sonhos) e finalmente acordei bem, sem sono.
Domingo, sem sono (sem sono assim, durante o dia. À noite eu continuo dormindo normalmente). E hoje, segunda, estou bem, com energia e disposição.

Evidente que todos esses dias eu rezei, eu incensei a casa, eu usei minha voz e a minha força, eu disse o que queria e o que não queria. O que fica é: depois do feitiço, o sono foi embora.

Por que não foi com as orações?

Fiz por intuição, porque mais ou menos estava sabendo o que estava acontecendo mas, como sempre estou com muito sono, de cara não prestei atenção. Era só mais um dia com sono. Só que foi demais.

Tem muitas coisas envolvidas aí e eu estou gradualmente entendendo, mas é que eu sou uma pessoa que faz provas das coisas, se colocando como cobaia mesmo. Eu estou sempre provando situações e pessoas. É desses erros e acertos e da experimentação que tiro minhas conclusões, e tem sido assim com o candomblé, com a igreja, e com outras coisas.

Eu não quero voltar para o candomblé. Mas o fato é que: FUNCIONA! Funciona. "Ah, funciona porque sua mente foi condicionada a crer que funcionaria...."

Pára. Imagine assim: vc nunca comeu chocolate. Não sabe que sabor tem, mas falam que é bom. Você prova e realmente acha bom. Mas você tinha alguma noção de qual sabor teria, ou o que seria, ou se vc de fato iria gostar porque outra pessoa falou que era bom?

Não. Você teve que experimentar um quadrado marrom, colocar na boca, prova-lo e por si só descobrir que aquilo era bom. Você não tinha nenhuma referência do sabor antes disso. Mas, você teve "fé", aceitou o que foi oferecido e descobriu que realmente era bom.

Hoje você come e sabe o quanto é gostoso, mas você já provou. Sempre será gostoso.

Assim é o candomblé, numa explicação simplista. Você vai SEM REFERÊNCIA do que é. Vai você e apenas a sua fé de que vai te fazer bem. Mas esse "bem" você não tem de onde buscar, em experiências anteriores, para alicerçar o que vc sente depois das experiências da religião.

O candomblé cumpre a função dele independente da sua crença. Sua crença apenas te leva lá. O resto, o candomblé faz. Há milênios. Com a mesma fórmula.

Então, quando realizo um feitiço, sei do resultado dele. Mas na primeira vez em que realizaram para mim, com elementos e combinações que não conhecia, não. Não sabia. E o resultado foi o mesmo.

É complicado, mas é uma das certezas, uma das poucas certezas, que tenho das minhas experimentações com religião.

Sempre falo - sempre falo não, na verdade falo para pouquíssimas pessoas - que o conhecimento oculto do candomblé, alguns, se repetem em outras religiões e até na ciência. Os povos africanos descreveram como entendiam. Hoje algumas coisas são descritas de outro jeito mas a essência é a mesma.

E há outras coisas no candomblé que a ciência nem chega perto, sem paralelos com outras religiões também.

Enfim.




sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Se o piano da Cultura estivesse bom, ah.... ía ser muito mais proveitoso...

Já fui para a minha casa, já fui na sogra e já voltei. Esperando o prof. de judô chegar, às 19h.

Ontem - dentro das coisas que aconteceram ontem e que não descrevi - conversei com uma senhora que pouca gente gosta. Sou quieta com quem não conheço, mas presto atenção nas pessoas. Eu sei porque as pessoas não gostam dela. Não vem ao caso. O que vem ao caso é que tento ir selecionando algumas coisas que não quero "ser", defeitos que não quero "ter".

Falam que os defeitos - o que vc julga ser defeito - que você vê em outra pessoa nada mais são do que seus próprios defeitos espelhados nela, né.

Muito assertiva e falante, essa senhora não passa confiança. Não há humildade nela. Não há realismo nela. Há apenas um "eu sou boa, eu sei tudo".

Fico me perguntando se é essa a impressão que passo para as pessoas... não gostaria que fosse.

Uma das coisas que me levou a deixar o candomblé foi um vislumbre de quem eu poderia me tornar. Ao invés de me dar humildade, o candomblé estava alimentando uma certa arrogância, um "estou por cima da carne seca". Muita gente se sente assim depois de ser iniciado, porque a sensação de invencibilidade realmente é forte. O candomblé é uma religião voltada para a valorização da individualidade e do ego. Evidente que, teoricamente, como toda religião que se preze, é pregado o amor ao próximo, a tolerância e o bom senso. Mas você e tudo que te compõe enquanto pessoa - qualidades e defeitos - são estimulados e acentuados. São valorizados, inclusive os defeitos.

A princípio, isso é uma "boa" coisa. O que não é boa coisa é você se perder dentro do poder que lhe é dado. Vi isso acontecer com meu irmão de barco. Vi, de certa maneira, isso acontecer comigo. Num grau menor e mais disfarçado. Mas inegável.

Ok, acontece com todos, em maior ou menor grau. Vc passa de uma felicidade intensa para uma consciência do poder e... e aí você começa a se testar para ver até onde vai. De boa, de mansinho. Até alguém te tirar do sério de verdade. No candomblé é perfeitamente justificável e válido você retaliar, se defender, às vezes até ceder aos seus caprichos.

E eu fui observando isso nos outros e em mim. E comecei a questionar. Comecei a temer pela Lucy do futuro. Comecei a duvidar do meu bom senso.

EVIDENTE que eu brinco muito com essa história de "oh, o poder", com alguns amigos. Mas com amigos que sabem que eu estou brincando. Não sei se é legal brincar de Deus e manipular situações. Na verdade, sei que não. Então parei.

CLARO que também não era assim... manipular situações... grande parte do que eu fiz no candomblé sempre foi voltado para proteção. Uma pequena parte, para abertura de caminhos para terceiros. E uma outra pequenina parte, sim... essa foi dedicada à coisas bem menos nobres. Mas com um certo medo, porque sou de Oxum e Xangô, e Xangô é o Deus da justiça, então, se eu não estiver ceeeeerta do que estiver fazendo... sou punida.

E tudo começou a ficar, de repente, esquisito, e a vontade de sair era maior que tudo. Por meses, deixei essa vontade crescer. Até que saí.

Eu, às vezes, tento ser uma pessoa um pouco diferente de quem eu sou de fato. Eu me conheço muitíssimo bem. Mas às vezes eu mesma me saboto. E, na maior parte do tempo, eu guardo minha opinião pessoal apenas para ouvir, quieta, a opinião alheia. Muito raramente eu dou minha opinião. Impôr, então...

Lógico que no trabalho as coisas mudam e bastante, mas estou falando no pessoal, com amigos, no dia-a-dia, fora assuntos profissionais. No trabalho eu sou o extremo oposto lutando para fazer um meio de campo experto. rs

E aí, voltando à essa senhora, que expõe com clareza tudo o que eu não gostaria de ser, fiquei pensando que preciso rever alguns pontos...

O Santuário, a princípio, não me ajudou muito. Lugar muito grande. Mas, aos poucos, eu fui deixando as birras de lado e me concentrando no que era pra ser feito, ou seja, o louvor na missa. E, de forma muito gradual, todo o resto foi perdendo a importância. O importante é a missa e a adoração a Deus, não o antes e nem o depois, e nem o lugar, e nem o fundador, e nem nada que possa me impressionar, me inquietar ou me preocupar de alguma forma.

De forma muito gradual, também, a fé foi crescendo, se fortalecendo, e eu fui pedindo... fui pedindo, e fui sendo atendida.

A ideia é sempre ser uma pessoa melhor, e ser melhor envolve engolir uns sapos, sim. Não ser uma boba, mas... mas também não forçar a barra. Encontrar o equilíbrio.





"Tenho eventos marcados na Casa da Cultura para os próximos meses e obviamente eu os farei, independente de quem vença".

Doce ilusão...

Evidente que estou puta. Tento disfarçar aqui e ali porque não posso sair falando mal da administração. E sei que é preciso cortar gastos de todo lado. Ontem, um monte de comissionado foi pra rua.

Mas eu queria ir até novembro...

Infelizmente não será possível. 

Os professores têm se comportado de maneira admirável, pelo menos na minha frente. Mas sinto que é legítimo. Agora querem marcar um almoço, um encontro, qualquer coisa. Sinto que realmente tinha uma equipe comigo.


Enfim, vida que segue. 

Mas estou desanimada. 

Ontem foi um dia tão atípico. De manhã até à noite, só coisas incomuns acontecendo. Estava tão perdida que saí de carro pelas ruas da cidade e acabei em Capivari, na casa de candomblé...

Cheguei e logo fui instruída a ficar quieta. Tinha uma cliente depenando uma pata. Uma pata para Oxum. No candomblé, não se fala enquanto uma pata está sendo depenada. Corta-se o encanto.

O fato é que acharam o máximo uma fillha de Oxum chegar bem na hora de uma oferenda para Oxum.

Eu já entendi o que rola comigo. O lance é que tenho muito carinho por algumas pessoas lá. Eu tenho um sentimento de gratidão. Eu nunca neguei o quanto está sendo difícil esse lance de candomblé. Na verdade tinha uma cesta básica no carro e acabei levando lá, não fui tão a esmo.

Mas... no outro dia, quando acordo, sou totalmente católica. O que reforça pra mim que o sentimento que existe é gratidão e não vontade de voltar.

Eu não vou descrever tudo que aconteceu aqui ontem. Aqui, na sala da Cultura, onde estou. Fiquei até umas 19 horas no prédio e foi inusitado o que aconteceu, mas pulemos essa parte. Eu estou bem cansada. Tô naqueles dias de sono o dia inteiro. E, como tem apresentação na terça, as professoras estão fazendo um 'corre' para ensaiar. Tenho acompanhado, mas cansada.

Muito diz-que-me-diz, muita treta política ainda rolando e eu vou percebendo como algumas pessoas podem ser extremamente falsas e bairristas. Minhas respostas são curtas e grossas, quando me perguntam algo: "perguntem para o Barone". Não adianta vir perguntar pra mim! O cara já ganhou, o outro já perdeu, pronto, gente. Mas, dos dois lados, a provocação continua. Acho que é coisa de cidade pequena. Ou talvez seja coisa de política, mesmo. 

Sou mais prática. Não gosto de ficar perdendo tempo com essas coisas.